Fernando de Albuquerque, responsável da Fundação Casa de Mateus, morre aos 80 anos

Sob a sua liderança, a instituição tornou-se um pólo cultural relevante em áreas como a música antiga ou a literatura.

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Fernando de Albuquerque fez 80 anos no dia 4 de Dezembro DR

O director-delegado da Fundação Casa de Mateus, em Vila Real, Fernando de Sousa Botelho de Albuquerque, que transformou a instituição num pólo importante da vida cultural portuguesa, morreu esta sexta-feira de madrugada, aos 80 anos.

Num comunicado publicado no seu site, a Fundação Casa de Mateus evoca Fernando de Albuquerque como um “homem do seu tempo” e que acompanhou “sempre de perto a reconstrução do Portugal democrático”, sublinhando o “alcance cultural, artístico e político” da programação que este idealizou para a instituição.

Há pouco mais de um mês, a 4 de Dezembro, no dia em que fez oitenta anos, Fernando de Albuquerque fora agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique por Marcelo Rebelo de Sousa, que já lamentou a sua morte, lembrando, numa nota oficial, que este tornou a Fundação da Casa de Mateus, “nas últimas décadas, um exemplo admirável de abertura da sociedade civil às tarefas de serviço público na esfera do património, da cultura e do mecenato”.

Publicada no site da Presidência da República, a nota acrescenta: “Vinda do interior de Portugal, de uma região tantas vezes esquecida, e de uma família que encarnou o mote noblesse oblige, a Fundação afirmou-se, apesar de todos os contratempos, como umas das nossas instituições mais coerentes e consequentes, com trabalho destacado nas áreas da música, das artes plásticas ou da literatura”.

Nascido em 1941, em Lisboa, de uma família aristocrática, Fernando de Albuquerque assumiu em 1973 as funções de director-delegado da fundação instituída pelo seu pai, mas foi já depois do 25 de Abril que a colocou ao serviço da vida política e cultural do país, designadamente com os seminários Repensar Portugal, inaugurados em 1978 com o encontro Cultura em Debate, e que incluíram iniciativas tão diversas como um colóquio luso-italiano de camonistas ou, já nos anos 90, seminários dedicados a temas como a educação, a regionalização ou o regresso dos nacionalismos.

Na programação cultural, foi talvez na música que a Fundação da Casa de Mateus deixou uma marca mais forte, quer com os Cursos Internacionais de Música criados em 1979, quer com o Festival de Música de Vila Real, lançado em 1985, que começou por se centrar na música barroca, abrindo-se mais tarde a outros géneros, do canto lírico ao jazz.

Descendente desse 5.º morgado de Mateus a quem se deve a chamada “edição monumental” de Os Lusíadas, de 1817, Fernando de Albuquerque abriu também a casa à literatura, instituindo em 1980 o Prémio literário D. Dinis, atribuído a obras de poesia, ficção e ensaio, e criando uma década mais tarde os Seminários de Tradução de Poesia, no qual colaboraram alguns dos mais importantes poetas e tradutores portugueses, e que resultaram na publicação de 40 livros com traduções de poetas das mais diversas línguas e nacionalidades.

A criação do Instituto Internacional Casa de Mateus, em 1986, ou ainda a inauguração da Residência de Artistas, em 1998, são outros marcos do percurso da Fundação da Casa de Mateus, que recebeu em 2011 o grau de membro honorário da Ordem do Infante D. Henrique.

Licenciado em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico, e diplomado em Indústria Alimentar pela Universidade de Louvain (Bélgica), Fernando de Albuquerque foi ainda professor assistente da Universidade de Luanda entre 1967 e 1970, integrou o Conselho Português da Fundação Europeia da Cultura entre 1983 e 1995, e foi membro do Conselho Nacional da UNESCO entre 1984 e 1988. Fez também parte do Conselho Institucional da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna e do Conselho Geral da Fundação Inês de Castro, e presidia actualmente ao Conselho de administração da Lavradores de Feitoria – Vinhos de Quinta SA.

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