Afinal, PSD pode vir a reclamar pelouros. Estará Rui Moreira disponível para lhos dar?

Presidente da Câmara do Porto quis atribuir responsabilidades executivas ao PSD, mas o partido recusou. Três meses depois do acordo formal de governabilidade firmado entre as suas partes, há no partido quem esteja receptivo à ideia de assumir pelouros.

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Vladimiro Feliz elogia acordo com Moreira e diz que não é tempo para mexidas no entendimento político que o PSD fez com a Câmara do Porto LUSA/RUI MANUEL FARINHA / LUSA

Ao fim de três meses, o PSD faz um balanço “muito positivo” do entendimento político pós-eleitoral que fez com o movimento independente de Rui Moreira e que permitiu aos sociais-democratas ficarem com a presidência da Mesa da Assembleia Municipal do Porto (AMP). Sebastião Feyo de Azevedo é agora o novo presidente do órgão fiscalizador do executivo e a sua prestação também merece aplausos por parte dos sociais-democratas.

“O acordo tem decorrido de forma muito positiva e o PSD conseguiu ver incluídas no orçamento da Câmara do Porto para este ano as medidas estruturais do programa eleitoral com que se candidatou cumprindo aquilo que foi assumido por ambas as partes”, declarou ao PÚBLICO Vladimiro Feliz, o primeiro vereador do PSD no executivo municipal, que não encontra razões para fazer quaisquer mexidas no acordo nos próximos tempos. Mas o partido divide-se nesta questão que nunca foi consensual.

Em Outubro, em sede de negociação com vista ao acordo de estabilidade e governação para quatro anos de mandato, Rui Moreira mostrou disponibilidade em atribuir responsabilidades executivas aos dois vereadores do PSD, mas no partido houve quem entendesse que seria mais prudente que o PSD não tivesse pelouros nem responsabilidades nas empresas municipais. O acordo fez-se vingando a tese de o PSD ficar sem pelouros, mas não foi por todos aceite.

Três meses depois de o acordo ter sido posto em marcha, a questão regressou ao partido e, nos últimos dias, muito se tem especulado sobre a possibilidade de o PSD, afinal, vir a receber pelouros. A forma como o entendimento político tem decorrido agrada às duas partes e mexer nele implica abertura por parte do movimento independente e isso não parece agradar aos apoiantes de Rui Moreira. E a nível do partido, caberá à comissão política concelhia dar um passo em frente com vista a um, eventual, alargamento do acordo de governação. E estará Rui Moreira disponível para mexer no acordo?

Vladimiro Feliz é categórico a afastar para já esse cenário, embora reconheça que o tema tem sido aflorado no partido e não ignora que há quem considere que Alberto Machado – que ficou fora da lista de deputados à Assembleia da República terá vontade em ser vereador com pelouros.

Contactado pelo PÚBLICO, Alberto Machado, que lidera a distrital do PSD/Porto, nega qualquer abordagem, mas são muitas as vozes a darem eco desta sua vontade.

Já o primeiro vereador do PSD recusou aceitar pelouros e mostra-se confortável com a decisão tomada. “Foi uma decisão correcta, se por um lado conseguimos garantir algumas das nossas bandeiras eleitorais, por outro, conseguimos fazer uma oposição construtiva”, justifica, atirando com um argumento de peso: “O que nos moveu não foram os lugares, mas sim as ideias e medidas para o Porto e para os portuenses, pelo que não vejo qualquer razão para alterar esta postura”.

Travando especulações em nome de uma nova narrativa, Vladimiro solidariza-se com o seu colega de bancada na Câmara do Porto e tenta calar o “ruído” que se ouve em algumas facções do partido em relação ao até agora deputado à Assembleia da República. “Alberto Machado tem sido solidário, não sinto que haja qualquer alteração em relação àquilo que foi acordado, nem da nossa parte, nem da parte do movimento de Rui Moreira”, garante o autarca do PSD, deixando claro que “não houve qualquer contacto nesse sentido” por parte do movimento independente.

Apelando ao partido para que se concentre nas legislativas, o vereador alerta ainda para o facto de este tipo de “ruído” não ajudar a consolidar o projecto de cidade que o partido tem em marcha.

Francisco Ramos, presidente da direcção do “Porto, O Nosso Movimento”, evita entrar em polémicas e foca-se no entendimento alcançado com os sociais-democratas. “O acordo em vigor com o PSD foi amplamente discutido e trabalhado por ambas as partes com o objectivo de garantir uma solução estável e duradoura de governabilidade, que garantisse sempre a melhor defesa dos interesses dos portuenses”, aponta Francisco Ramos, frisando, em declarações ao PÚBLICO, que o “acordo foi consensualizado, escrito, assinado e válido para 4 anos. Da nossa parte como sempre fizemos, e como sempre faremos, cumprimos com os acordos que celebramos e assinamos, pelo que cá estaremos para o cumprir durante os 4 anos de mandato.”

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