Investigadores do Porto vão usar cascas de camarão para criar produtos sustentáveis

Projecto liderado pela Faculdade de Ciência da Universidade do Porto quer explorar os desperdícios de cascas de camarão na produção de fármacos, plásticos e detergentes.

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Beth Macdonald/Unsplash

Uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) vai usar os resíduos das cascas de camarão que geralmente vão para aterro para produzir aminas (uma classe de compostos químicos) que serão usadas na produção de fármacos, plásticos e detergentes. Num comunicado divulgado esta quarta-feira, a FCUP revela que o projecto, liderado por investigadores do Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV-Requimte), quer usar as cascas de camarão para obter “produtos sustentáveis”.

As cascas de camarão são “ricas em azoto” e uma “excelente oportunidade para obter vários tipos de aminas de uma forma sustentável”, explica Andreia Peixoto, a investigadora responsável pelo projecto, citada no comunicado. As aminas, compostos químicos derivados do amoníaco, são actualmente produzidas na indústria “a partir de petróleo”, acrescenta.

Porém, querendo utilizar “apenas métodos sustentáveis”, os investigadores têm a decorrer vários processos de extracção e conversão de um dos constituintes das cascas (a quitina) em aminas bioderivadas nos laboratórios do Departamento de Química e Bioquímica da FCUP. Nesse processo, as cascas são colocadas em água pressurizada a uma temperatura de cerca de 250 graus Celsius, resultando um extracto e um resíduo sólido que, após tratamentos térmicos, pode ser usado como catalisador “que vai acelerar reacções químicas para a transformação sustentável da quitina e derivados em aminas”.

“Pretende-se criar as condições necessárias para se desenvolver uma refinaria que usa cascas de camarão em vez de petróleo”, resume a cientista. O projecto, intitulado Shell4bioA e com uma duração de 18 meses, tem como lema “não desperdiçar”, mas “reutilizar e valorizar”, aproveitando uma matéria-prima que seria desperdiçada e evitando o recurso a combustíveis fósseis.

Além dos investigadores do LAQV-Requimte, o projecto conta com a colaboração de especialistas do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa (FFUL).

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