Investigadores portugueses usam enzimas mutantes para acelerar degradação de plásticos

Grupo de Bioquímica Computacional da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto está, com recurso a enzimas mutantes, a criar uma solução industrial para acelerar a degradação do tereftalato de polietileno, um dos plásticos mais produzidos.

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Reuters/Heo Ran

Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) estão a criar uma solução industrial que, através de enzimas mutantes, pretende acelerar a degradação de um dos plásticos mais produzidos, o tereftalato de polietileno, revelou esta terça-feira a responsável.

Em declarações à agência Lusa, Maria João Ramos, líder do grupo de Bioquímica Computacional da FCUP, explicou que o projecto visa criar uma tecnologia inovadora para “biodegradar um dos plásticos mais abundantemente produzidos e muito utilizado em embalagens e têxteis": o tereftalato de polietileno (PET).

“O PET acumula-se no meio ambiente a um ritmo impressionante”, referiu a investigadora, acrescentando que mais de 500 mil milhões de garrafas PET são produzidas todos os anos e mais de metade nunca são recicladas. Nesse sentido, os investigadores vão apostar na criação de enzimas produzidas pela bactéria Ideonella sakaiensis, que tem capacidade para degradar o plástico. “Estas enzimas bacterianas exibem uma forte capacidade de biodegradar o PET à temperatura ambiente, constituindo uma maneira mais ecológica de o fazer”, afirmou a investigadora.

É possível que já tenhas ouvido falar da bactéria comedora de plásticos várias vezes. Em 2016, cientistas descobriram em Sakai, no Japão, a bactéria Ideonella sakaiensis nos sedimentos de um centro de reciclagem de garrafas de plástico. Esta é a única bactéria conhecida até hoje que evoluiu o suficiente para digerir o plástico das garrafas, usando-o como principal fonte de energia. Fá-lo produzindo uma enzima, que várias equipas de investigação pelo mundo começaram a estudar mais aprofundadamente.

Para degradar o PET em grandes quantidades, as enzimas precisam de ser sujeitas a um processo de mutação, por forma a se tornarem mais rápidas e estáveis, sendo que para encontrar experimentalmente as mutações certas é “mais fácil” recorrer a métodos de supercomputação.

Assim, o projecto, que decorre até 2023 e é financiado pelo PRACE (Partnership for Advanced Computing in Europe), envolve simulações no supercomputador Mare Nostrum, em Barcelona, e testes nos laboratórios do Instituto Real das Tecnologias de Estocolmo, na Suécia.

“O objectivo da nossa equipa é conseguir que o processo seja mais eficaz e eficiente, e que seja muito mais barato, para que a indústria possa vir a desenvolver interesse na solução”, referiu Maria João Ramos, acrescentando que as simulações computacionais permitem calcular a eficiência máxima de cada enzima.

Neste momento, os investigadores estão a experimentar e testar as várias propriedades aliadas ao processo de mutação das enzimas. “Temos de ter a certeza de que tudo funciona à temperatura ambiente e que as enzimas são disponibilizadas de forma estabilizada”, afirmou.

Para que a solução possa ser disponibilizada a unidades de reciclagem ou outras indústrias, as enzimas têm necessariamente de ser absorvidas por um material sólido, por forma a manterem-se presentes apenas à superfície, estando por isso a equipa de investigadores a testar vários materiais.

Através do financiamento do PRACE, os investigadores da FCUP garantiram uma capacidade computacional anual de 45 milhões de horas para desenvolver as enzimas mutantes.

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