Crescimento, complexidade e cooperação

Ao longo da última década a complexidade económica do país tem-se mantido estável, na posição 38 entre as 133 economias analisadas no Atlas da Complexidade Económica.

Para crescer, a economia portuguesa precisa de produzir mais produtos complexos, isto é, exigentes no saber-fazer necessário ao seu fabrico.

Os produtos e/ou serviços complexos não podem ser feitos por uma única pessoa a trabalhar sozinha. Por mais inteligente que seja, um indivíduo não consegue deter todo o conhecimento necessário para fabricar uma impressora 3D, por exemplo. É necessária uma organização, ou rede de organizações, capaz de reunir os conhecimentos especializados que se encontram no cérebro de vários indivíduos. Quanto mais complexo o produto, mais extensa e diversa a rede de capacidades a mobilizar.

Da análise da estrutura exportadora resulta que Portugal tem uma variedade de capacidades que lhe abre muitas oportunidades de diversificação no sentido de produtos mais complexos. Apesar disso, ao longo da última década a complexidade económica do país tem-se mantido estável, na posição 38 entre as 133 economias analisadas no Atlas da Complexidade Económica. A estrutura produtiva portuguesa não tem evoluído como se poderia esperar face ao conhecimento tácito que o país possui.

Parecem existir, assim, obstáculos à concretização de oportunidades de diversificação para produtos mais complexos. A sua identificação e ultrapassagem são essenciais para que Portugal cresça.

A geração de novas capacidades e a sua combinação com as existentes é um processo de co-criação, através de actividades de experimentação, imitação, repetição, aprendizagem por tentativa e erro, que acontecem no âmbito de interacções entre pessoas e organizações, num determinado espaço e tempo. Os produtos complexos resultam, assim, de processos de inteligência colectiva envolvendo a participação de uma variedade de atores da esfera privada — indivíduos, equipas, empresas não financeiras, universidades, centros de investigação, instituições financeiras —, mas também da esfera pública. Estes últimos são essenciais na produção dos bens públicos e do quadro regulamentar e institucional que viabilizam a concretização das oportunidades de diversificação para produtos mais complexos.

A cooperação entre um número alargado de pessoas e organizações é assim essencial à evolução da estrutura produtiva portuguesa.

Para existir cooperação é preciso haver confiança entre pessoas e entre estas e as organizações. Ora, o país não se destaca pela positiva neste domínio, como se observa nos resultados divulgados nos relatórios Public Integrity and Trust in Europe e no How's Life? 2020, publicados pela OCDE.

Para além de continuar a promover a cooperação entre as empresas e o Sistema de Investigação e Inovação, parece ser ainda mais importante, incentivar uma maior proximidade e diálogo entre as organizações do sector público e do sector privado. O potencial de aprendizagem associado à cooperação efectiva entre a esfera pública e privada pode ser o que tem faltado para a economia portuguesa crescer.

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