Alemanha critica Comissão Europeia por considerar a energia nuclear sustentável

Ministra do Ambiente alemã apelida de “erro absoluto” a proposta, porque “uma forma de energia” que pode levar “a catástrofes ambientais devastadoras” não pode ser sustentável.

Foto
A central nuclear de Gundremmingen será uma das últimas a fechar na Alemanha, no final de 2022 LUKAS BARTH/Reuters

O Governo alemão criticou este sábado a decisão da Comissão Europeia (CE) de propor que os investimentos em energia nuclear e gás sejam considerados sustentáveis no processo de transição ecológica.

“Parece-me um erro absoluto que a Comissão Europeia (CE) pretenda incluir a energia nuclear no grupo das actividades económicas sustentáveis da União Europeia (UE)”, disse a ministra do Ambiente alemã, Steffi Lemke, em declarações ao grupo de comunicação social Funke.

Segundo a ministra, dos Verdes alemães (um dos três partidos da coligação governamental), “uma forma de energia que, por um lado, pode levar a catástrofes ambientais devastadoras – em caso de acidente grave num reactor – e, por outro, deixa grandes quantidades de resíduos perigosos altamente radioactivos, não pode ser sustentável”.

“Vamos agora estudar os critérios do projecto que a CE nos apresentou na noite de sexta-feira e chegar a acordo sobre a questão dentro do Governo”, disse a ministra, afirmando ser “extremamente problemático” que a Comissão “queira dispensar uma consulta pública numa questão tão delicada”

A organização ambiental e de protecção ao consumidor Deutsche Umwelthilfe (DUH) também criticou “fortemente” a posição do executivo comunitário, referindo que conferir o estatuto de actividade sustentável a projectos de energia nuclear e gás natural “permite, sob um manto verde, investimentos prejudiciais ao meio ambiente”.

Numa declaração, a DUH exigiu que os Estados-membros e o Parlamento Europeu tomem uma posição clara contra esta proposta da CE.

“Classificar a energia nuclear e o gás natural como sustentáveis tira a este grupo qualquer credibilidade”, disse o director executivo da DUH, Sascha Müller-Kraenner, acrescentando que, com a sua eventual aprovação, o chanceler Olaf Scholz “coloca em risco a reputação do Governo alemão em matéria de política climática”.

A CE apresentou aos 27 Estados-membros, na sexta-feira, um projecto de rotulagem verde (sustentável) de centrais nucleares e a gás para facilitar o financiamento de instalações que contribuam no combate às alterações climáticas.

O documento estabelece os critérios que permitem classificar como “sustentáveis” os investimentos em centrais nucleares ou a gás para a produção de electricidade, com o objectivo de orientar as “finanças verdes” para actividades que contribuam para a redução dos gases com efeito de estufa.

A França – que quer relançar a sua indústria nuclear, uma fonte de electricidade estável e que não liberta carbono – e países da Europa Central, como a Polónia ou a República Checa – que devem substituir as suas centrais de carvão altamente poluentes –, exigem esta solução.

Esta classificação permite uma redução dos custos de financiamento, o que é fundamental para os projectos em causa e para os Estados que os pretendam apoiar.

Na sexta-feira, a Alemanha encerrou três das seis centrais nucleares ainda em funcionamento no país, no âmbito de um plano de abandono deste tipo de energia na principal potência económica europeia até 2022.

As centrais de Brockdorf, Emsland e Gröhnde, todas no norte do país, cessaram as suas operações no último dia de 2021, e as centrais Neckarshaim 2, Isar 2 e Gundremingen C, no Sul, seguirão o exemplo no final de 2022, tornando a Alemanha um país sem energia nuclear.

O plano está a ser aplicado com um consenso alargado no país, dado que apenas tem sido contestado pelo partido da extrema-direita AfD, mas gerou controvérsia quando se iniciou o debate, em 1998.

Sugerir correcção
Ler 16 comentários