Situação “muito perigosa” nas cadeias de Israel com presos palestinianos alvo de punições colectivas

Mulheres impedidas de receber visitas, depois de algumas terem sido alvo de espancamentos, e vários homens presos com ferimentos provocados pelas forças israelitas que não recebem atenção médica.

Foto
“A situação nas prisões é crítica e muito perigosa”, diz Milena Ansari, da organizacão Addameer Ammar Awad/Reuters

Grupos de direitos humanos dizem não saber em que condições se encontram vários prisioneiros palestinianos, incluindo alguns feridos pelas forças israelitas, em diferentes prisões de Israel. Tudo começou com o castigo aplicado a três prisioneiras que se recusaram a deixar as suas celas durante um raide nocturno por causa do frio no exterior: os agentes israelitas espancaram-nas, puseram uma delas em isolamento e cortaram a electricidade na secção da prisão em que se encontravam. Em resposta, um preso ligado ao Hamas atacou um guarda noutra prisão e seguiram-se novas punições colectivas.

“A situação nas prisões é crítica e muito perigosa”, diz à Al-Jazeera Milena Ansari, da Addameer, uma organização de defesa dos direitos dos prisioneiros em Ramallah. Entre as várias acções recentes de castigos colectivos, Ansari refere o contínuo encerramento da secção da prisão de Nafha onde se encontram os presos do Hamas.

Tudo começou a 14 de Dezembro, na prisão de Damon, no Norte de Israel, quando Shurooq Dwayyat, Marah Bakir e Muna Qaadam recusaram deixar a cela. Dwayyat foi logo posta em isolamento; no dia seguinte, depois de terem protestado batendo nas portas da cela, Bakir e Qaadam foram colocadas em solitária. As suas celas foram alvo de novos raides e durante estas operações as forças especiais israelitas bateram em várias outras mulheres, denuncia em comunicado a Sociedade Palestiniana de Prisioneiros, um grupo de monitorização – algumas viram ainda os seus hijabs (véu islâmico) serem retirados à força.

Quando estas notícias chegaram à prisão de Nafha, no Sul de Israel, Yousef Mabhouh, um preso palestiniano da Faixa de Gaza ligado ao Hamas, atacou um guarda israelita com uma arma improvisada, deixando-o levemente ferido na cara. Um incidente que o Hamas descreve como “uma resposta natural à escalada” enfrentada pelas prisioneiras.

A ala onde o ataque aconteceu foi depois alvo de um raide das forças especiais que retiraram 80 presos das suas celas, “algemaram-nos durante horas ao frio e bateram-lhes com gravidade”. O próprio “Mabhouh foi alvo de graves agressões e depois transferido de helicóptero para o hospital”, diz a Addameer.

De acordo com a Sociedade Palestiniana, vários outros presos ficaram feridos, alguns com gravidade, incluindo um com ferimentos num olho e outro com feridas no rosto depois de um ataque com cães, e nenhum recebeu cuidados médicos.

Entretanto, as prisioneiras de Damon estão impedidas de receber visitas e de aceder à cantina há duas semanas.

Estes dois grupos de defesa dos direitos dos presos acusam Israel de bloquear deliberadamente as informações sobre estes acontecimentos e as suas consequências. “Não sabemos a condição médica de alguns dos presos, não sabemos o que lhes aconteceu”, acusa Ansari, denunciando um “encobrimento”. “Não pudemos ter acesso às prisões onde isto está a acontecer para documentar a situação. O acesso também foi negado aos advogados”, nota. A Sociedade Palestiniana pede ao Comité Internacional da Cruz Vermelha para visitar os presos e averiguar as suas condições.

À beira da morte

Em simultâneo, Hisham Abu Hawwash, há 135 dias em greve de fome para protestar contra a sua “detenção administrativa”, está à beira de morte. Incapaz de falar ou de se mexer, pesa 37 quilos (pesava 89) e foi transferidos para um hospital israelita: um vídeo divulgado pela revista online Inside Arabia mostra dois dos seus filhos a chorarem sem parar no seu quarto de hospital.

Preso em Outubro de 2020 por soldados israelitas, foi colocado em detenção administrativa, um polémico regime de detenção que permite a Israel deter palestinianos indefinidamente sem acusação nem julgamento: a lei prevê um máximo de seis meses, mas basta ao Governo pedir à justiça para renovar a detenção por iguais períodos.

“O Serviço Prisional Israelita recusou transferir o meu irmão para um hospital há vários dias, apesar de a sua saúde se ter deteriorado significativamente”, disse à Al-Jazeera Emad Abu Hawwash, irmão de Hisham, durante um protesto junto à sede da Cruz Vermelha na cidade de Hebron, onde pediram intervenção internacional. “Só quando a sua situação piorou é que o transferiram, não querem ser responsáveis pela sua morte na prisão.”

Os palestinianos têm-se manifestado em apoio dos prisioneiros em várias cidades e vilas da Cisjordânia.

Sugerir correcção
Ler 9 comentários