110 Histórias, 110 Objectos: a revista Técnica

O podcast 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.

No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. Neste 26.º episódio do podcast, conhecemos a revista Técnica.

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A revista Técnica Débora Rodrigues

“Tenho saudades da responsabilidade de fazer sair um número todos os meses. Era muito motivador e gerava muita adrenalina porque as coisas não eram fáceis”. Estamos no período entre 1968 e 1972 através das palavras de Guilherme Arroz, professor aposentado do IST, que também foi redactor, chefe de redacção e director da revista Técnica durante o mesmo período. “Fazer sair a revista para rua e receber o primeiro pacote de revistas que vinha da tipografia. Folhear aquilo dava um gozo do caraças”, continua.

Quando chegou à Técnica encontrou uma equipa de cinco estudantes do IST e dois funcionários, incluindo “o Sr. Rodrigues, o mais antigo, que eram a espinha dorsal do seu funcionamento e passavam o conhecimento de equipa em equipa”. Garantiam a continuidade do projecto, que via os estudantes do IST sempre a rodar, assim como geriam assinaturas, anúncios e ensinavam os novos membros a fazer revisões de provas, a identificar os autores com quem falar e como diversificar e encontrar equilíbrios entre as áreas científicas.

Estes quatro anos são uma das muitas fatias da história desta mítica revista dos alunos do IST, cuja publicação durou entre 1915 e 1998, primeiro sobre a chancela de Técnica Industrial (de 1915 a 1917, com publicação interrompida pela 1.º Guerra Mundial) e depois já como Técnica, a partir de 1925. Na biblioteca do IST estão 498 números da revista, também disponibilizados online no site da Associação dos Estudantes do Técnico. No seu interior contam-se cerca de dois mil artigos escritos por engenheiros, arquitectos e doutores, incluindo dez assinados por Alfredo Bensaúde, fundador do IST, mais de 500 artigos escritos por professores maioritariamente do Técnico e cerca de 400 escritos por estudantes. “Isto dá credibilidade à revista. Temos aqui 498 números da revista que são riquíssimos do ponto de vista da história da engenharia, do ensino e do Instituto Superior Técnico”, resume Isabel Marcos, coordenadora da Biblioteca do Arquivo e Museus do Instituto Superior Técnico.

“No início, a revista era dos estudantes do Técnico e tinha muito de notícias sobre o Técnico, sobre o ensino, tinha muitos artigos de professores orientados para os estudantes. Ao longo do tempo começou a ter artigos de carácter mais científico, mais desligado do interesse imediato dos estudantes. Na altura em que entrei, esse já era o aspecto prioritário. Eram artigos, escritos por professores e engenheiros, muitas vezes do Técnico, que relatavam os seus trabalhos científicos e de engenharia”, recorda Guilherme Arroz.

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As colecções da revista estão à guarda da biblioteca do IST, que também faz a medição entre informação que está nos artigos e o público. Em curso está também um projecto de divulgação digital do conteúdo da revista. “Interessa-me que as pessoas rapidamente possam aceder a conteúdos. Se quiserem encontrar algo sobre a mecânica do solo, automaticamente saibam que vão encontrar artigos sobre isso neste, neste e neste número… Se quiserem artigos escritos por um professor, saibam imediatamente onde é que podem estar”, resume Isabel Marcos. A recuperação de todos os artigos, para indexação e classificação – “um trabalho megalómano” – está em curso e prevê-se que fique concluída até 2024. “A recuperação de todos os títulos e autores já está feita e agora queremos posteriormente a recuperação do conteúdo”, explica.

Enquanto isso acontece, os exemplares da revista repousam - com todas as “condições ambientais, também limpeza, de forma a preservar aquele espólio documental” - na cave do pavilhão de Electricidade, junto à torre Norte do IST, que tem guardados cerca de 2500 títulos de publicações periódicas que foram adquiridas pelo Técnico ao longo dos anos.

A revista Técnica, como explica Guilherme Arroz, “nunca chegou a ter o carácter de uma revista científica clássica, mas em contrapartida também já não era uma revista dos estudantes do IST, era mais abrangente. Tinha pessoas que queriam dar a conhecer o seu trabalho em Portugal, ou por razões curriculares ou para divulgarem o seu trabalho”. Perante a evolução da investigação científica internacional e nacional, acabou por perder espaço e extinguir-se em 1998.

“Hoje em dia o que importa às pessoas é publicar, publicar, publicar, em revistas que têm referees, que são citadas e isso contribuiu directamente para o currículo deles. A Técnica não tinha essa característica e portanto a partir de certa altura começou a ter menos interesse e a perder público. E nós não soubemos dar a volta a isso, não soubemos reencaminhar a Técnica para uma coisa diferente”, resume. E que volta poderia ter-se dado? “Faltou uma reformulação estratégica, que tanto poderia ser para uma revista científica ou uma revista de divulgação científica, como existe noutros países, voltada para o público em geral. Não há uma revista em Portugal de divulgação, no meu ponto de vista a Técnica podia ter evoluído para isso”, complementa.

Em Novembro de 2021, contudo, o nome da revista voltou a ser impresso numa capa. Em versão totalmente digital, foi editada por iniciativa da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico. Na receita da nova formulação encontramos “artigos mais curtos, escrita mais simples, a revista em si ser montada de forma mais apelativa, para os estudantes terem mais interesse e quererem ler e conhecer o que é feito no Técnico”, como resume Madalena Caldas, estudante de Engenharia Química no IST, e que conduziu o processo de regresso da revista. Para além da alegria de ter participado nessa recuperação da revista, Madalena lida também com a “responsabilidade de não querer desonrar o que aconteceu no passado”.

E para o futuro da Técnica, Guilherme Arroz aponta, no mínimo, uma necessidade: “Esta revista merecia, pelo menos, uma tese de mestrado, porque reflecte muito a história do país numa certa fase, sobretudo na fase inicial da revista”.

O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.

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