Motorista de Cabrita passa para o gabinete de Francisca van Dunem

Acusado de homicídio por negligência, Marco Pontes transportava governante em excesso de velocidade, a 163 km/hora.

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Rui Gaudencio

O motorista de Eduardo Cabrita, que conduzia em excesso de velocidade o carro do ministro da Administração Interna quando atropelou mortalmente um trabalhador na A6, transitou para o gabinete da sucessora do antigo governante, Francisca van Dunem. Está acusado pela justiça de homicídio por negligência.

Segundo um despacho publicado esta quarta-feira em Diário da República, a transição foi aprovada a 10 de Dezembro, ou seja, uma semana depois de Marco Pontes ter sido acusado de, com a sua condução imprudente, ter causado no Verão passado a morte a Nuno Santos, um trabalhador de limpeza da estrada com 43 anos que ia a atravessar a via. O carro ministerial seguia a 163 km/hora, mas o motorista não tinha assinalado marcha de emergência. Arrisca agora uma pena de prisão até três anos.

Ao Ministério Público, Marco Pontes afirmou que tudo se sucedeu numa fracção de segundos, desde que viu “alguém a sair para a faixa de rodagem vindo do separador central até ao embate”. Disse que “não viu Nuno Santos sair do interior do separador, viu-o a caminhar dentro da faixa de rodagem, de costas para a viatura que conduzia, em direcção à berma do lado oposto”. Primeiro travou e, ao mesmo tempo, utilizou a buzina do veículo, mas nunca utilizou os sinais de emergência (horn), descreveu. Terá sido, nesse momento, segundo as suas palavras, que Nuno Santos se apercebeu da viatura, mas “parou e hesitou”.
“Perante esta hesitação, Marco Pontes desviou a trajectória para a direita e o peão fugiu para a esquerda (na direcção do separador central)”, lê-se no despacho de acusação, segundo o qual o motorista alegou ainda não ter noção a que velocidade se deslocava, “mas adiantou que era a velocidade adequada à via”.

O motorista admitiu a existência de uma carrinha de sinalização dos trabalhos em curso no local parada na via, mas diz que não “tinha qualquer sinalização luminosa, tendo apenas acoplado um sinal de sentido obrigatório e sem sinal de triângulo, colocado na parte traseira do lado esquerdo”.

Mas a investigação concluiu não ser verdade, uma vez que se apurou que “a actividade em causa, realização de trabalhos de corte de vegetação e remoção de resíduos na berma direita da AE6, no sentido Caia/Marateca, estava devidamente sinalizada” pelo veículo de protecção. Sucede que segundo alguns testemunhos a vítima foi atropelada antes do local onde estava a carrinha de sinalização. Ouvido duas vezes pelas autoridades, o condutor deste veículo confirma-o.

O acidente culminou na demissão de Eduardo Cabrita logo a seguir à acusação do seu motorista. O governante nunca assumiu qualquer responsabilidade no sucedido, tendo alegado ser um mero passageiro.

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