A literatura contra o excesso de real

Discussões apaixonadas, polémicas, reedições de peso, o efabular como modo de resistir à realidade exacerbada. 2021 trouxe bons livros e muito que pensar acerca do que é a literatura. Ficam pistas à luz de um dos melhores deste ano: o primeiro volume do Diário de Witold Gombrowicz.

Foto

Na primeira fotografia de uma série feita pela artista polaco Bohdan Paczkowski (1930-2017), o homem fotografado está de perfil, olha em frente, uma figura a desafiar o tempo e duplicada num espelho oval, ao fundo. O ar é sereno. Nas imagens que se seguem, esse olhar permanece, quase sempre a olhar para longe, horizonte inacessível a todos quantos o olham a ele, imaginário para todos quantos se fixam nele. Numa dessas imagens ele está de chapéu, noutra à janela e há uma cidade a partir de um terraço, com ele de sobretudo e cachecol: Vence. Destaca-se outra em que ri, deitando o tronco numa mesa cheia de papéis. Quando olha em frente, para a câmara, fá-lo seguro. Não é desafiador. Um olhar honesto e isso incomoda pela intimidade que aqueles olhos parecem. O homem chama-se Witold Gombrowicz (1904-1969) e foi — é — um dos maiores escritores e pensadores polacos. O primeiro volume do seu Diário, que abarca os anos entre 1953 a 58, acaba de ser publicado mesmo no fim deste 2021 e isso é para celebrar.

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