Governo pede a ingleses que cumpram regras da covid quando enfrenta escândalo por festas no ano passado

Anunciada investigação a três potenciais festas de Natal levadas a cabo pelo Governo britânico quando as regras de contenção da pandemia não permitiam convívio de pessoas que não morassem juntas.

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Boris Johnson nega ter conhecimento de qualquer festa Reuters/POOL

Três potenciais festas de Natal realizadas o ano passado quando Londres estava em confinamento, duas em Downing Street e uma no departamento de Educação, vão ser alvo de uma investigação levada a cabo pelo Governo, depois de uma indignação generalizada com a aparente excepção para governantes, quando estes acabaram de decidir mais restrições.

A investigação oficial será levada a cabo pelo responsável do Governo Michael Ellis, que a apresentou esta quinta-feira na Câmara dos Comuns, expandindo a investigação inicial anunciada pelo primeiro-ministro, Boris Johnson, na véspera, que dizia apenas respeito a uma das festas. Um dos eventos agora incluídos terá contado com a presença, e um discurso, do próprio Boris Johnson.

Ellis disse que a polícia será notificada se se concluir que houve infracções à lei – na véspera, a polícia anunciou que não faria qualquer investigação porque havia indícios de crime. Da oposição, Fleur Anderson questionou a seriedade da investigação e perguntou se não era necessário incluir mais festas. A BBC diz que pelo menos duas outras datas com suspeitas de festas não vão ser investigadas.

E juntando-se aos problemas de Johnson, o seu partido foi esta quinta-feira multado em 17800 libras (20835 euros) pela comissão eleitoral por não ter reportado uma doação usada na remodelação da residência oficial de Boris Johnson. Segundo o Guardian, a decisão deixa a hipótese de que Johnson possa ter enganado a comissão de ética sobre a questão, e vários deputados estão a pressionar para uma investigação.

O anúncio que Johnson fez, na véspera, de mais restrições para travar os contágios, incluindo teletrabalho preferencial, uso de máscara e obrigação de passe que mostre vacinação ou recuperação de covid provocou, nota a Reuters, mal-estar não só nos sectores de vendas e entretenimento, mas também entre políticos do seu próprio partido.

Nas notícias, as novas medidas foram ligadas ao potencial desrespeito pelos membros e funcionários do Governo das regras do Natal passado.

O assunto dominava as primeiras páginas dos jornais, e uma revista de imprensa feita pelo diário The Guardian notava que até “títulos que apoiam habitualmente os conservadores são duros com o Governo sobre a crise das reuniões do Natal”.

O Daily Mail fazia a ligação entre as novas regras e as que terão sido desrespeitadas no ano passado: “uma regra para eles, novas regras para nós”. O Daily Mirror dizia: “plano B para nós, plano ‘mentir, mentir, mentir’ para ele [Johnson]”.

Uma das potenciais festas, de 18 de Dezembro, já foi até chamada “festa de Schrödinger”, como o gato que estava vivo e morto ao mesmo tempo, por, segundo as comunicações do gabinete de imprensa de Downing Street, não ter acontecido mas ter seguido todas as regras (as regras da altura proibiam convívio em locais interiores entre pessoas que não vivessem juntas).

Já há vários dias que o Governo é questionado sobre este encontro, mas a gota de água foi a divulgação, na quarta-feira, de um vídeo do que parecia ser um ensaio de preparação de uma conferência de imprensa em que uma porta-voz de Johnson, Allegra Stratton, tenta, de modo trocista, escapar a potenciais perguntas sobre uma festa – a suspeita é de que a festa tenha sido feita quatro dias antes do vídeo.

No Parlamento, na quarta-feira, Johnson negou ter tido conhecimento de que tenha havido qualquer festa e disse que partilha o “choque” com a gravação – Stratton, que era agora conselheira, demitiu-se na sequência da divulgação do vídeo.

O porta-voz de Johnson foi novamente questionado sobre se o choque do primeiro-ministro se devia a achar que tinha havido mesmo uma festa ou, no caso de não ter havido festa, o que achou Johnson chocante nas declarações sobre uma festa que não aconteceu. “O primeiro-ministro falou sobre a impressão que terá dado ao público, mas não tenho nada a acrescentar além disso”, disse o porta-voz, citado pelo Guardian.

A Press Association (PA) noticiou entretanto que houve três multas consideráveis para pessoas que quebraram as regras na mesma data: três mulheres foram multadas em 1100 libras (cerca de 1287 euros) e 210 libras (245 euros) de custas judiciais por terem juntado mais de duas pessoas nas suas casas.

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