França admite discutir a autonomia do território caribenho de Guadalupe

Governo de Paris apela à calma e à manutenção da ordem pública após semana de protestos violentos no território ultramarino das Caraíbas.

Foto
Carros incendiados numa rua de Guadalupe RICARDO ARDUENGO/Reuters

A França está disposta a discutir a autonomia do território franco-caribenho de Guadalupe se for do interesse dos seus cidadãos. A garantia foi dada na sexta-feira à noite pelo ministro francês para os Territórios Ultramarinos, Sébastien Lecornu, que fez também um apelo à ordem numa altura em que o arquipélago enfrenta uma onda de protestos violentos contra as medidas de restrição por causa da pandemia, a que se junta o descontentamento da população num território onde um terço dos habitantes vive abaixo da linha de pobreza.

Num discurso de 16 minutos, Lecornu prometeu o diálogo sem “tabus” e a apresentação de planos de acção “concretos”, como um programa de ajuda económica à população jovem, um quinto da qual está desempregada. Em contrapartida, o ministro francês pediu a colaboração popular porque “o Estado não pode fazer tudo sozinho”, disse, citado pela FranceInfo.

O ministro expressou a sua condenação pela violência que deflagrou em Guadalupe na última semana e que levaram à instauração do recolher obrigatório no território. “Quem cair na violência deve responder perante os tribunais”, disse o Lecornu, antes de aplaudir uma acção policial que resultou em pelo menos uma centena de detidos, muitos deles “tristemente conhecidos pela polícia”.

Os incidentes ficaram marcados pela construção de barricadas, incêndios e saques a mercearias ou farmácias, que levaram ao envio de 2250 agentes de segurança para o território.

Sobre o gatilho dos protestos, a vacinação obrigatória para enfermeiros e bombeiros, Lecornu moderou a posição exposta nos primeiros dias pelo Governo francês e propôs “um exame caso a caso das situações individuais”, com base na “proporcionalidade e discernimento”. “O nosso desejo é disponibilizar os meios para analisar cada situação individualmente, definindo o melhor sistema de apoio”, indicou.

No início da semana, o Presidente francês, Emmanuel Macron, apelara à calma perante uma situação que classificou como “muito explosiva”.

“Não podemos usar a saúde das francesas e dos franceses para lutas políticas”, disse Macron durante uma visita a Amiens, no norte de Paris, fazendo um apelo à manutenção da “ordem pública”.

O ministro para os Territórios Ultramarinos reconheceu “a crise permanente que Guadalupe vive há anos, marcada por “greves endémicas, cortes de água” e a crise sanitária e ambiental que fez com que 300 toneladas de clordecone, um composto sintético que é utilizado como pesticida, fossem derramadas em Guadalupe e Martinica entre 1972 e 1993, uma “angústia”, nas palavras do ministro.

“É o que nos dizem os jovens de Guadalupe agora, e a verdade é que a única forma de debelar a crise é fazer com que que os membros do governo regional trabalhem em conjunto com a sociedade civil”, disse o ministro francês, que prometeu financiar, de imediato, 1000 empregos subsidiados para jovens, com apoio e formação específicos, no sector de apoio às comunidades locais ou associações sociais, desportivas e ambientais.

Por fim, o ministro prometeu um debate sobre a questão da autonomia da ilha. “Algumas autoridades eleitas levantaram a questão da autonomia, por oposição ao seu estatuto actual como departamento do Estado francês”, disse Lecornu. “O Governo francês está disposto a falar sobre isso. Não existem maus debates, desde que esses debates sirvam para resolver os problemas reais de Guadalupe”, concluiu.

 
Sugerir correcção
Ler 13 comentários