Jerónimo de Sousa: “Convergência para quê? A pensar no poder ou a pensar nos problemas?”

O comité central do PCP esteve reunido no domingo e colocou o partido no combate ao “regresso do PSD e CDS” e pronto para “dificultar alianças entre o PS e o PSD”. Apelo ao “reforço da CDU” ouviu-se uma dezena de vezes.

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Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, não esclarece se irá ou não ser candidato nas listas da CDU LUSA/RODRIGO ANTUNES

Reforçar e convergir. Estas foram as duas principais ideias que saíram da reunião do Comité Central do PCP, no domingo, sobre a qual Jerónimo de Sousa falou na manhã desta segunda-feira, aos jornalistas. Sublinhando que o PCP está “sempre disponível” para uma convergência e por deixar “a marca” do partido nas “medidas positivas”, ainda que seja preciso definir “os conteúdos em torno dos quais se tem de convergir”, ficou também evidente que o partido está preocupado com os resultados das eleições legislativas antecipadas de 30 de Janeiro. Os comunistas querem ainda dificultar dois caminhos: o regresso de um Governo PSD/CDS e eventuais alianças entre o PS e os sociais-democratas.​ 

A partir da sede do PCP, o secretário-geral deixou transparecer que o partido ambiciona ainda acabar com a perda de votos nas urnas e reforçar a bancada comunista. Por dez vezes Jerónimo de Sousa pediu o “reforço da CDU” como resposta aos problemas do país e apresentou o PCP como o voto de esquerda para travar o regresso da direita ou do bloco central (PS e PSD). Quanto a futuros entendimentos com o PS – que não afastou , o líder do PCP deixou uma pergunta no ar: “Convergência para quê? A pensar no poder ou a pensar nos problemas?”​.

A pergunta tem o cepticismo como ponto de partida. Para o líder comunista, o chumbo do Orçamento do Estado para 2022 teve uma razão: “O PS queria eleições, não queria encontrar soluções" pois ambiciona uma “maioria absoluta” que lhe permita “fugir a qualquer convergência que limite as suas opções”.

Rejeitando que tenha sido o voto contra do PCP a abrir a porta à direita, Jerónimo de Sousa pegou na analogia para tomar para si a responsabilidade de ter afastado o PSD e o CDS do Governo, em 2015. “O PCP abriu a porta ao PSD e CDS para os afastar do Governo. Foi isso que o PCP fez: abrir a porta a uma política diferente”, disse. Mas não deixou António Costa de fora da conversa.

“Foi o primeiro-ministro que usou a expressão de meter a mão na maçaneta. E isso encerra uma opção e a possibilidade de repetir o que já vimos de maioria absoluta e bloco central. Há aqui um problema de facto, a que o primeiro-ministro poderá responder. Porquê esta pressa em meter a mão na maçaneta? O futuro dirá”, atirou.

PCP ainda não fechou listas

O líder comunista fez tabu sobre a composição das listas de candidatos à Assembleia da República, não adiantando se João Ferreira (dirigente comunista, vereador na Câmara de Lisboa, antigo eurodeputado e candidato a Presidente da República), Bernardino Soares (dirigente comunista e ex-presidente da autarquia de Loures) ou Vasco Cardoso (dirigente comunista) irão integrar as listas pelo PCP. 

"Seria injusto que se comece a anunciar candidatos de forma avulsa, quando se trata de listas. O encabeçamento é importante, mas a equipa, aqueles que estão colocados com possibilidade de ir a eleições também contam muito. Posso dizer-lhe que não vai assistir, como acontece particularmente nos partidos da direita, àquele frenesim e aquela estonteante forma de escolher os candidatos”, afirmou, acrescentando que “atempadamente” as decisões serão conhecidas.

E fechou ainda mais a resposta quando questionado sobre se seria ou não o rosto do partido nas eleições, dizendo apenas que está “disponível”, se o partido assim o decidir e a sua saúde o permitir, mas que as listas ainda estão ser definidas. “No plano pessoal não há grande novidade”, resumiu.

Antecipando o que poderá ser novamente o “trunfo” da campanha socialista, Jerónimo de Sousa vai perguntando pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR). “Houve um silenciamento do tiro da bazuca. Se há dinheiro, ele que venha, que faz falta”, desafiou o líder comunista. “Esses anúncios deviam ser aplicados, tendo em conta as dificuldades que o país atravessa neste momento”, insistiu.

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