Um pijama para todos

A pandemia de covid-19 acarretou consigo este vislumbre das disparidades sentidas pelas famílias e, consequentemente, pelas crianças. Enquanto algumas abraçaram os sucessivos confinamentos numa casa recheada de tudo, outras há que se viram cercadas de nada. Hoje assinala-se o Dia Nacional do Pijama

Foto
Scott Webb/Unsplash

A 20 de Novembro assinala-se o Dia Nacional do Pijama, uma iniciativa que faz parte da Missão Pijama, promovida pela Associação Mundos de Vida, relembrando a todos que “uma criança tem direito a crescer numa família”. Geralmente utilizado para dormir, o pijama, símbolo deste dia, remete para o conforto de uma casa, para a família. É a peça de roupa leve e confortável que usamos com os nossos, “entre portas”. 

A data retratada coincide com o dia da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, o mais completo e importante tratado sobre os direitos de todos os menores de 18 anos, assinada e ratificada por vários países do mundo. 

As crianças constituem a esperança num futuro melhor, promissor. São as condutoras do destino da humanidade. E que humanidade será esta que irão abraçar? Uma questão para reflectir, povoada pela constante observação do mundo infantil. Crianças que se vêem privadas das mesmas oportunidades que os demais, desigualdades sociais e económicas, diferenciação pela forma de ser, estar ou vestir, gadgets inacessíveis a todas as bolsas; realidades sociais ainda muito visíveis no Portugal do século XXI. 

A pandemia de covid-19 acarretou consigo este vislumbre das disparidades sentidas pelas famílias e, consequentemente, pelas crianças. Enquanto algumas abraçaram os sucessivos confinamentos numa casa recheada de tudo, outras há que se viram cercadas de nada. A realidade do ensino à distância cavou o fosso entre quem tem acesso e quem ficou inacessível, quando só a vontade não basta. As carências acentuaram-se e os efeitos são desastrosos.

Associadas a estas questões encontramos as crianças institucionalizadas, aquelas que, pelas mais variadas razões, são privadas de crescer no seio de uma família, impedidas de criar memórias de uma vida familiar em plenitude. É essencial sensibilizar e mudar mentalidades no que respeita a esta cultura de institucionalização, reduzindo o seu número.

Para isso muito contribui a data que se assinala, visando defender o direito a ter uma família, ao alertar para o problema das crianças desfavorecidas, numa tentativa de aumentar o número de famílias de acolhimento em Portugal, ao dar oportunidade a crianças separadas dos pais de serem acolhidas por quem realmente está disposto a dar-lhe um lar. 

Em 2020 registou-se um aumento de 137% no número de crianças em acolhimento familiar. A ambição passa, como demonstrou Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, por ampliar esta resposta, em detrimento da institucionalização, e que a tendência de futuro é precisamente proceder à desinstitucionalização de quem não necessita de estar institucionalizado. 

Estar atento ao que nos rodeia, olhar as crianças à nossa volta, perceber as dinâmicas que as envolvem é importante para garantir que estas observam a satisfação dos seus direitos. Promover os afectos, a família, dar oportunidade a casais dispostos e com possibilidade de acolher (com filhos biológicos ou não), desburocratizar o processo de candidatura a família de acolhimento – que conheceu alterações com o novo regime de acolhimento familiar de crianças e jovens em risco – é fundamental para aumentar a qualidade de vida e a igualdade de oportunidades destes seres. 

Fica a reflexão de que, não só neste dia, mas nos demais do calendário, possamos olhar as crianças como seres pejados de sonhos e inocência, desprovidos de malvadez, sedentos de afecto e protecção, que um dia também já fomos. Que todas elas possam se ver rodeadas de um pijama.

Sugerir correcção
Comentar