Suu Kyi acusada de mais um crime de fraude eleitoral

Junta militar da Birmânia impôs julgamento à porta fechada. Suu Kyi nega todas as acusações, que são já 11, e acarretam uma pena total de mais de 100 anos de prisão.

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Suu Kyi é uma de 16 pessoas acusadas de “fraude eleitoral e acções ilegais” Soe Zeya Tun/Reuters

As autoridades militares da Birmânia acusaram Aung San Suu Kyi de novos crimes, incluindo fraude eleitoral, anunciaram esta terça-feira os media birmaneses. Foram também acusados outros membros da sua administração.

Suu Kyi era a líder de facto do país quando foi detida, junto com vários responsáveis do seu partido, na madrugada do golpe de 1 de Fevereiro, que derrubou o seu governo eleito.

Suu Kyi, que não era Presidente porque a junta barrou o cargo a quem tivesse filhos estrangeiros (o que é o seu caso), era a líder de facto, depois de o seu partido ter ganho duas maiorias, em 2015 e de novo com um resultado ainda melhor em 2020, num período de transição de um regime militar para um civil, mas em que os militares mantinham algum poder. O Presidente era um aliado próximo, Win Myint, também detido.

As acusações contra Suu Kyi acarretam uma pena total máxima de mais de 100 anos de prisão. Os processos decorrem à porta fechada e os advogados estão proibidos de divulgar qualquer informação. Entre as acusações, há uma de ter violado uma lei de importação por ter equipamentos rádio em casa. Organizações de direitos humanos sublinham que não há muitas possibilidades de ter um julgamento justo

Os media estatais informaram ontem que Suu Kyi era uma de 16 pessoas acusadas de “fraude eleitoral e acções ilegais” durante o processo eleitoral, incluindo ameaças a responsáveis eleitorais.

Os militares dizem que as eleições que o partido de Suu Kyi venceu foram fraudulentas e justificaram assim o golpe de Fevereiro. Após a votação tinham-se queixado à comissão eleitoral, que não lhes deu razão.

Suu Kyi liderou uma luta não violenta contra a ditadura nas duas últimas décadas contra o regime militar, e ganhou o Prémio Nobel da Paz em 1991, quando estava sob prisão domiciliária – esteve detida quase 15 anos entre 1989 e 2010.

No plano internacional, a sua imagem de resistência pacífica sofreu quando, depois de estar no poder, escolheu defender o tratamento dado aos muçulmanos rohingya: em 2019, decidiu mesmo ser ela a apresentar-se no Tribunal Penal Internacional, em Haia, para defender o seu país da acusação de genocídio contra os rohingya.

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