Cartas ao director

Juízes literais

A propósito da posição do Tribunal Constitucional no que respeita à lei que regula os maus tratos a animais, parece que os juízes do TC se equiparam, no tipo de leitura literal e fechada que fazem, àqueles que baseiam as suas acções opressivas ou violentas na interpretação literal de textos ditos sagrados. As civilizações evoluem, transformam-se, aceitam as evidências e adaptam-se a realidades outrora tidas como inimagináveis. Tal como se abandonaram ideias e práticas absurdas, como a de o Sol que em tempos se cria girar em torno da Terra, a escravatura que era tida como natural, fonte de receitas que a muitos enriqueceu, o apartheid ou a perseguição de povos pela sua opção religiosa, também o homem deveria entender que todos os animais existem no planeta Terra com os mesmos direitos que ele próprio. Nada nem ninguém passou algum dia ao homem uma carta de foral para tomar posse da Terra como a sua despensa, pondo e dispondo a seu bel-prazer de tudo quanto nela existe. Darwin explicaria melhor, mas a mentalidade humana não parece estar ainda preparada para tal choque. Muito menos os juízes do vetusto TC.

Luís Silva, Lisboa 

Crise política

A batalha política a que temos vindo a assistir desde a guerra interna nos partidos que se acentuou com o chumbo do Orçamento do Estado para 2022, até à dissolução do Parlamento e a convocação de eleições antecipadas, é algo a que já deveríamos estar habituados, se pensarmos que o poder é algo apetecível, mas pelos benefícios que alguns podem extrair, em lugar de trabalharem para o bem comum.

Sabemos todos que o poder corrompe, e a verdade é que por vezes ouvimos notícias desagradáveis sobre cidadãos com responsabilidades políticas e não só, envolvidos em casos de corrupção, quando em cerimónias pomposas prometem cumprir com lealdade as funções que lhes são confiadas, acabando depois por deixar-se influenciar por comportamentos menos dignos.

A crise política que vivemos e que pode condicionar em determinadas áreas a aplicação de algumas medidas que estariam previstas no próximo Orçamento do Estado, deveria ao mesmo tempo servir para uma reflexão na classe política, sobre a implementação de novas regras parlamentares que obrigassem à redução do número deputados, como forma de reduzir as influências, e a necessidade de uma maior transparência para os eleitores.

Américo Lourenço, Sines

Comportamento de crianças e jovens

Não é só sobre os jovens com comportamentos delinquentes que levamos muito tempo a intervir ou não intervimos, de todo. Este ano lectivo, com uma turma do terceiro ciclo do ensino básico, constituída por meninos sensíveis e educados, enquanto decorria a abordagem da matéria das aulas, já tive direito a perguntas como: você, de que clube é?; qual é o seu signo?; que idade tem?

Estas perguntas traduzem, para além do mais, o à-vontade dos meninos do ensino básico nas salas de aula e nos espaços escolares. Trata-se de situações comuns. Tanto, que a generalidade dos professores acha tudo (muito) normal. Não eu, que, em sala de aula, não sou “você” e que não alinho.

Mais do que a “Justiça Juvenil”, na boa análise de Andreia Sanches, no editorial de quinta-feira, talvez a educação de crianças e jovens seja “o parente [muito mais] pobre do sistema”. Ora, a Escola não devia estar cega e surda e muda relativamente ao problema. Porque não faz sentido que esteja. Nem é legítimo que esteja.

José Batista d’Ascenção, Braga

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