Estados Unidos e China juntos, em dia com declaração sobre fim de petróleo e gás

As duas nações assinaram uma declaração em que prometem colaborar para reduzir emissões e intervir ao nível da redução de metano e na desflorestação. O petróleo fica de fora, mas documento está a ser visto como um passo na direcção certa.

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Reuters/YVES HERMAN

Glasgow não acordou com uma nova versão “quase final” da declaração final da COP26, como tinha desejado o presidente da cimeira do clima, Alok Sharma, mas teve direito a novidades, sobretudo a que chegou com a declaração conjunta dos Estados Unidos e da China, ainda na noite de quarta-feira, com os dois países a prometerem colaborar na corrida para o corte de emissões de gases com efeito de estufa (GEE), assumindo que são necessários esforços maiores e que irão trabalhar, individualmente e em conjunto, para “acelerar a transição para uma economia neutra em carbono”. O documento, que está a ser encarado como um passo no bom sentido nas negociações ainda a decorrer, tem referências concretas aos cortes de metano e à desflorestação.

A China, que não assinou o Compromisso Global do Metano, promovido pelo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e em que mais de cem países se comprometeram a cortar as suas emissões de metano em 30% até 2030, vem agora reconhecer a importância deste GEE no “aumento da temperatura” e a necessidade “de controlar e reduzir” as suas emissões nesta década.

Em concreto, o país de Xi Jinping (que não marcou presença na COP26) compromete-se a desenvolver um plano de acção nacional, a juntar ao seu compromisso nacional voluntário (NDC, na sigla inglesa), com o objectivo de “alcançar um efeito significativo no controlo e redução de emissões de metano na década de 2020”. Um encontro entre os dois países, para o primeiro semestre de 2022 ficou já marcado para discutir vários pontos relacionados com esta matéria.

Estados Unidos e China também saúdam a Declaração de Glasgow dos Líderes sobre a Floresta e o Uso dos Solos, assinada na primeira semana da COP26, em que os mais de 110 signatários se comprometem a “travar e reverter a desflorestação e degradação dos solos até 2030” e que conta com um apoio financeiro de mais de 16,5 mil milhões de euros provenientes do sector público e privado, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia.

Agora, China e Estados Unidos afirmam que pretendem “colaborar no apoio à eliminação da desflorestação ilegal global, aplicando as suas leis respectivas que banem as importações ilegais.”

A grande ausência do documento é o petróleo, mas a declaração está a ser bem recebida, até porque é ali reconhecida a importância de todos os grandes objectivos da COP26, na área da mitigação, adaptação, finança e colaboração, com as duas nações a comprometerem-se com mais ambição e a deixarem a indicação de que ambas vão apresentar NDC em 2025. A necessidade de manter as metas do Acordo de Paris, de manter o aumento da temperatura média global abaixo bem abaixo dos 2 graus Celsius e de desenvolver esforços para a limitar a 1,5 graus, comparando com os valores pré-industriais, também está presente na declaração, com os dois países a garantirem que irão “tomar medidas climáticas reforçadas para aumentar a ambição” nesta década.

Tanto o secretário-geral das Nações Unidas, António, Guterres, como o responsável pela política climática da União Europeia, Frans Timmermans, saudaram o acordo, que consideram ser uma “boa notícia” para as negociações em curso em Glasgow.

Esta quinta-feira foram libertadas mais algumas versões de pontos relacionados com o que hão-de ser as conclusões finais da cimeira, mas não, por enquanto, uma nova versão da declaração conjunta, o que indica que ainda se está a trabalhar para se tentar encontrar uma fórmula que acomode as objecções apresentadas pelas partes.

É provável que venha a existir uma nova versão ao longo deste dia, em que são esperadas as assinaturas de duas novas declarações, que contam com a participação de Portugal. Uma que “inibe o nuclear de ser considerado como uma energia sustentável”, conforme adiantou esta quarta-feira o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, e outra promovida pela Dinamarca e a Costa Rica, que pretende pôr fim à produção de petróleo e gás. Conhecida como BOGA, a sigla inglesa para a Aliança para lá do Petróleo e Gás, deverá ser apresentada oficialmente ao final da manhã, mas não deve contar, entre os seus apoiantes, com alguns dos maiores produtores destes combustíveis fósseis, como os Estados Unidos, a Arábia Saudita (que tem sido apontada como uma das principais forças de bloqueio nas negociações), a Rússia ou a Austrália.

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