Vereadora do PS no Porto passa a independente por divergências com líder da concelhia

A vereadora da Câmara do Porto Catarina Santos Cunha assume o estatuto de independente e faz questão de sublinhar que sai por divergências com o líder concelhio do PS-Porto Tiago Barbosa Ribeiro. PS manifesta surpresa.

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Tiago Barbosa Ribeiro liderou candidatura do PS à Câmara do Porto Adriano Miranda

A vereadora da Câmara do Porto Catarina Santos Cunha abandona o grupo de vereadores socialistas, pelo qual foi eleita, e assume o estatuto de independente, por divergências com o líder concelhio do Porto do PS, Tiago Barbosa Ribeiro. A concelhia do PS já manifestou a sua estranheza pela decisão.

“Após profunda ponderação, decidi abandonar o grupo de vereadores do PS e manter a minha presença na Câmara Municipal do Porto como vereadora independente, podendo contribuir de forma construtiva e participativa para o futuro da minha cidade, o Porto”, afirmou a vereadora, num comunicado enviado à Lusa nesta segunda-feira.

Em reacção, o PS emitiu uma nota na qual “manifesta surpresa e estranheza” por esta decisão da vereadora. “Não houve qualquer diálogo prévio que [fizesse antever] esta decisão, nem tão-pouco que a justifique: não existiram quaisquer divergências que sustentem esta decisão, e que, por isso, não são enunciadas no comunicado”, lê-se na nota enviada às redacções.

Catarina Santos Cunha, vereadora sem pelouro, era uma dos três vereadores eleitos nas eleições autárquicas de Setembro pelo PS, depois do movimento independente Rui Moreira: Aqui Há Porto obter 40,72% dos votos e eleger seis vereadores. Por seu turno, o PSD elegeu dois e a CDU e o Bloco de Esquerda um cada um.

Está em causa a forma de fazer oposição

Na missiva, Catarina Santos Cunha revelou que a razão da sua desvinculação se prende com o modo como Tiago Barbosa Ribeiro, que foi candidato à presidência da autarquia pelo PS nas últimas autárquicas, “tem liderado a oposição na câmara”.

“A oposição socialista no Porto não passa de um conjunto de posições ‘do contra’, que resultam de uma imposição vertical de Tiago Barbosa Ribeiro e da cúpula concelhia do PS-Porto”, afirmou. A actual forma de fazer política do partido está assente na ausência de diálogo e de envolvimento dos vereadores eleitos, referiu.

Catarina Santos Cunha considera-se “excluída daquilo em que tentou participar” e que não é bem-vinda por parte de alguns elementos do actual PS-Porto. “Junta-se a estas atitudes uma enorme falta de disponibilidade de Tiago Barbosa Ribeiro, pois está sempre com pressa de ir para Lisboa, que é onde está a sua grande ambição política”, denunciou ainda.

Já na nota do PS-Porto, a estrutura local defende que “o processo de decisão de todos os sentidos de voto é feito de forma participada por todos os eleitos” e que “não há exclusão de nenhum eleito de nenhum órgão”. “As decisões resultam desse diálogo, do património de posições do PS no Porto e do programa que apresentámos a eleições”, escreve a concelhia socialista, revelando que, até ao momento, houve apenas uma reunião de vereação.

Postura do PS vs. postura de Tiago Barbosa Ribeiro

Catarina Santos Cunha ressalvou que a postura do actual PS-Porto é “completamente diferente” da anterior vereação liderada pelo eurodeputado Manuel Pizarro, onde era ouvida, acompanhada e incluída nas iniciativas. Com Tiago Barbosa Ribeiro “tudo mudou”, considerou, acrescentando sentir que “não passa de um voto útil para os seus lances de afirmação política”.

“Foi o caso da última reunião de preparação da primeira reunião de câmara, que veio a ocorrer no dia 25 de Novembro, pois percebi que estava completa e profundamente desalinhada com o grupo de dirigentes que foi convidado a discutir os pontos que iriam a votação. Tudo muito agressivo, pouco construtivo e apenas focado em ser do contra”, vincou.

Catarina Santos Cunha condenou ainda o facto de não ter sido ouvida na elaboração do programa de candidatura de Tiago Barbosa Ribeiro.

A vereadora diz que esta “forma aguerrida, de imposição de uma voz única, pouco positiva de fazer política, voltada para os interesses dos partidos e pouco ou nada preocupada com a cidade e com as pessoas”, não é a sua forma de estar, nem aquilo para que se propôs.

“Não quero permanecer como um peão ao serviço das decisões de voto avulsas do partido ou das ambições nacionais de um líder político, quero somente trabalhar na defesa e na exigência de um Porto melhor”, concluiu.

*Notícia actualizada às 11h com a reacção do PS-Porto.

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