Feira do Cerco vai fechar. Mantê-la seria “guetizar” Campanhã, diz Rui Moreira

Só o Bloco de Esquerda votou contra o encerramento. Câmara do Porto alega questões de segurança e promete abrir um feiródromo em Campanhã, que junte esta feira e a da Vandoma

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NFACTOS/Fernando Veludo

O voto favorável da vereadora Catarina Santos Cunha, que se desvinculou do PS e é agora independente, chegaria para aprovar a proposta da Câmara do Porto para encerrar de forma definitiva a feira do Cerco, em Campanhã. Mas tanto os dois vereadores do PS como os do PSD e da CDU se abstiveram na votação, permitindo também que essa proposta passasse no executivo, na reunião de câmara desta segunda-feira. No hemiciclo, apenas o Bloco de Esquerda se mostrou “profundamente em desacordo” com a decisão: “Se há violência, desordem e desacato é evidente que não pode acontecer. Nem ali nem em lado nenhum. Mas isso não é razão para acabar com uma actividade económica. Porque se fosse tínhamos fechado todas as discotecas, estádios de futebol, bares”, argumentou Sérgio Aires.

Rui Moreira pediu a palavra no início do debate para explanar aquilo que diz ser uma questão filosófica. “Gostamos muito de feiras, mas uma feira que depende, para a sua continuidade, de ter lá uma parafernália de policiamento, isso entendemos que não”, apontou o autarca, garantindo que teve conversas com “várias pessoas da comunidade romani” que concordam com a decisão.

Para o presidente da Câmara do Porto, não há um “valor cultural” naquela feira, como foi defendido por alguns vereadores, e defender isso é “condenar” os cidadãos da freguesia de Campanhã a um “estereótipo”. “O que estão a defender é continuar a guetizar zonas da cidade porque nos parece a nós moralmente bem”, disse.

O vereador Ricardo Valente, que assina a proposta, falou de uma feira que “sempre foi problemática” e lamentou a “falta de coragem” existente até agora. Antes da pandemia, disse, havia 251 feirantes e apenas 28 eram legais: “89% dos feirantes não constavam dos mapas do município, não pagavam qualquer tipo de taxas”, lamentou. Segundo Ricardo Valente, desde a reabertura da feira há sempre mais comerciantes ilegais do que legais no Cerco.

Na reunião camarária, o vereador comprometeu-se em avaliar a passagem temporária dos 28 comerciantes do Cerco com situação regularizada para as feiras da Vandoma e da Pasteleira. Neste momento, a autarquia está a estudar em que local da freguesia de Campanhã poderia instalar um feiródromo que iria albergar esta feira – que passará a chamar-se feira de Campanhã – e a da Vandoma.

Sérgio Aires, que esteve no Cerco no dia anterior, lamentou que houvesse uma uniformização das feiras na cidade. “É um problema”, defendeu. “Aquela feira não corresponde ao modelo de feiras que se pretende ter na cidade. É uma feira de pessoas pobres.”

Ilda Figueiredo, da CDU, sublinhou os problemas que este encerramento pode trazer: “Vai dificultar a vida a muita gente, numa cidade em que as questões sociais são muito graves”, apontou. Para os casos de incumprimento, a vereadora pediu alguma compreensão, sobretudo depois de uma fase pandémica em que muitos comerciantes não tiveram rendimentos para fazer face às despesas.

Tiago Barbosa Ribeiro, do PS, sublinhou que a feira é um local de trabalho para alguns cidadãos, defendendo que questões de segurança, por si só, não devem levar ao fecho e que a autarquia deve fazer “trabalho de mediação” para tentar resolver o problema. Para o PSD, a questão é “preocupante e problemática”, mas o encerramento “é injusto para aqueles que cumprem” e a autarquia deveria concentrar esforços em reforçar a segurança de forma a impedir o fecho.

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