Oito bailarinas e oito músicos em palco. A dança é feita ao ritmo da música que vai sendo interpretada ao vivo, no palco da Fábrica das Ideias, na Gafanha da Nazaré. E tudo flui tão naturalmente que é difícil acreditar que, na base, estão diferentes grupos e artistas, alguns amadores, que se juntaram propositadamente em torno desta criação. Chama-se “5280 pés” e é uma das estreias da edição deste ano da Milha - Festa da Música e dos Músicos de Ílhavo, que acontece este fim-de-semana. Com coreografia de António M Cabrita e São Castro (Companhia Paulo Ribeiro), esta peça da Companhia Jovem de Dança de Ílhavo – nascida, precisamente, no âmbito deste festival e com bailarinos de três escolas de dança locais – é um dos grandes destaques do cartaz (esta sexta-feira, às 21h00, e sábado às 18h00).

“Foi interessante partir dessa directriz: tinha de ser um espectáculo com música ao vivo e interpretada por músicos daqui”, avalia António M Cabrita, minutos antes de dar início ao último ensaio de “5280 pés”, que conta com música e composição de Henrique Portovedo. Ao grupo juntou-se também o criador ilhavense Diogo Saraiva, responsável pelos figurinos da peça, e o coordenador artístico da Companhia de Dança Jovem de Ílhavo, Luiz Antunes. “E tudo foi acontecendo de forma muito natural”, testemunha o responsável pelo grupo que conta com bailarinas das escolas de dança IP Arabesque, Fulldance Studio e Casa do Povo da Gafanha da Nazaré.

Para além de “5280 pés”, a edição deste ano da Milha conta com mais duas criações exclusivas – o evento acabou por se tornar também num programa de apoio à produção local. Uma dessas produções dá pelo nome de “Trégua” e surge pelas mãos de José Valente e a Orquestra Filarmónica Gafanhense. Trata-se da primeira obra criada para viola d’arco e orquestra de sopros - obra inédita já eternizada num disco Antena 2, disponível para venda durante o evento – e cuja estreia está marcada para este domingo, pelas 16h00, na Casa da Cultura, em Ílhavo.

Também a criação “Mimo’s Orchestral Experience”, cuja apresentação está marcada para este sábado (16h00) foi pensada, e criada, propositadamente para a edição deste ano da Milha. Resulta de um desafio da Mimo’s Dixie Band à Banda dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo - Música Nova que se juntam pela primeira vez para explorar a junção da tradição da banda filarmónica com o estilo “jazz dixieland New Orleans” dos Mimo’s, abordando várias técnicas de improvisação musical, teatral, corporal e humorística no Jardim 31 de Agosto, na Gafanha da Nazaré.

Além destas novas criações, a Festa da Música e dos Músicos de Ílhavo volta a apresentar novos projectos ilhavenses: Vitória Wilkens (sexta-feira, na Fábrica Ideias Gafanha Nazaré), the Hornbros Beat Lab e Blow (sábado, na Casa Cultura Ílhavo) e Plywood Society, que actuam pela primeira vez ao vivo (concerto agendado para domingo, na Casa Cultura Ílhavo).

Nascido em 2017, por ocasião do 60.º aniversário de Carlos Paião – músico ilhavense que continua a ser o patrono desta celebração anual da música -, o Milha não tem parado de crescer, em públicos e em criações. “As pessoas percebem que isto é cada vez mais uma festa delas, que parte de Ílhavo para Ílhavo, mas também para fora”, realça Luís Ferreira, director do 23 Milhas, projecto cultural do município ilhavense.  

No âmbito da edição deste ano será ainda realizada, este sábado (17h00), uma conversa com alguns agentes culturais da região para falar sobre o impacto do programa de apoio à produção local, que junta José Valente (projecto Trégua), Bernardo Limas (Haff Delta), Anabela Mateus e Paula Gomes (Quinto Palco) e Luiz Antunes (Companhia Jovem de Dança de Ílhavo).

Todos os eventos são gratuitos, mas a entrada é limitada à lotação das salas, sendo necessário o levantamento de bilhete para os espectáculos “5280 pés”, “Trégua” e para o concerto dos Blow.