PS: Novo ciclo, nova proposta

Um novo ciclo implica nova estratégia, novos aliados e novos protagonistas. Se é verdade que as reformas não se podem fazer com todos, não é menos verdade que terão que se fazer com alguém

Para o PS e para o Governo encerrou-se um ciclo político. Um ciclo que foi marcado essencialmente por duas tarefas fundamentais: na primeira legislatura, a recuperação das sequelas da troika e, nos dois anos desta legislatura, enfrentar e resolver a pandemia. Ambos os desígnios – que pareceram a muitos quase impossíveis atingir com sucesso - foram cumpridos summa cum laude

Começa, pois, um novo ciclo e um novo ciclo implica nova estratégia, novos aliados e novos protagonistas.

Alguém disse: “se não consegues sintetizar a tua estratégia, é porque não tens nenhuma”. E uma estratégia não é um somatório de decisões táticas, nem o resultado de uma composição de objetivos. Uma estratégia deve ser clara e servir três propósitos: mobilizar energias, vincular decisões e construir resultados (na formulação exemplar da anterior legislatura: “recuperar, devolver, com contas certas”). 

Portugal necessita dessa nitidez estratégica, que já não pode ser essencialmente circunstancial - ultrapassar ou recuperar dificuldades objetivas -, mas aspiracional.

Nitidez e dimensão aspiracionais que só se obtêm com participação e envolvimento dos destinatários, construindo alianças e forjando compromissos (a gestão do PRR tem que ser disso um bom exemplo). 

Se não formos capazes de renovar nas metodologias de interlocução, perder-se-á o contacto com os setores mais dinâmicos e centrais da sociedade portuguesa (e com isso a capacidade de renovação da nossa proposta política).

Ao PS cabe governar vinculado a uma agenda reformista de compromisso permanente com o Estado Social, com o Estado de Direito e com o Estado Estratega (a matriz de uma “governação à esquerda”). 

Se é verdade que as reformas não se podem fazer com todos, não é menos verdade que terão que se fazer com alguém (as recentes iniciativas reformistas na Justiça e na Defesa careceram, e muito, dessa interlocução).

Na expressão inglesa: make no mistake…  O país reflete um intenso cansaço: i) próprio de uma persistente pandemia; ii) de um prolongado desgaste socio-empresarial; iii) e de um longo exercício governamental.

Este intenso cansaço, num contexto de tripla crise (política, sanitária e económico social), é uma silenciosa contagem decrescente que não se compadecerá com a manutenção dos mesmos protagonistas (“é da vida”, mas é). 

A história comprova que em cada momento de exigência e decisão, o PS - mobilizando-se internamente e no exercício da sua inalienável autonomia estratégica - soube sempre encontrar o sentido do futuro e propô-lo aos portugueses. Voltamos a estar nessa situação e dependentes de nós próprios.

Uma maioria estável, reforçada e douradora não se obtém porque se comprova que é a melhor saída, mas porque se demonstra que é o melhor caminho (que se tem a estratégia, os aliados e os protagonistas). A um novo ciclo deve corresponder uma nova proposta. Cabe ao PS saber fazer esse exercício.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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