ONU prolonga missão na Bósnia, que enfrenta “ameaça existencial”

A Rússia ameaçara usar o poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Não o fez, mas por sua pressão o Alto Representante não apresentou o relatório mencionando uma “ameaça existencial” para o país.

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O Alto Representante internacional para a Bósnia-Herzegovina, Christian Schmidt, não foi ouvido no Conselho de Segurança DADO RUVIC/Reuters

O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou, por unanimidade, uma autorização para manter a força miliar liderada pela União Europeia na Bósnia.

A Rússia tinha ameaçado usar o poder de veto nesta votação que decorreu na quarta-feira à noite, o que acabou por não acontecer. Mas o Conselho de Segurança não ouviu a avaliação do alto representante internacional no país, Christian Schmidt, que avisou entretanto que a Bósnia-Herzegovina enfrenta a maior ameaça à sua existência desde o fim da guerra, e que “a possibilidade de mais divisão e conflito é muito real”.

A força liderada pela UE na Bósnia substituiu, em 2004, uma força da NATO. Depois do final da guerra, esta tinha cerca de 60 mil militares. A força da UE tem, hoje, 600 elementos, e foi renovada por um período de um ano.

Na resolução para manter a missão foi apagada qualquer menção ao representante internacional, o que diplomatas citados pela agência Reuters dizem ter sido feito para permitir a aprovação do prolongamento da missão pela Rússia e pela China, que não reconhecem o alto representante.

A Republika Srpska, entidade sérvia da Bósnia, apoiada pela Sérvia e pela Rússia, tem pedido há muito o fim do cargo, que foi criado pelo acordo de paz de 1995, que pôs fim à guerra que começou em 1992. 

O embaixador da Rússia na ONU, Vassili Nebenzia, acusou os seus colegas ocidentais no Conselho de Segurança de “uma atitude de desdém” em relação à soberania da Bósnia-Herzegovina, dizendo que os cidadãos do país é que devem decidir “como devem construir o seu Estado e como devem governar o seu país”.

O episódio mais recente de crise aconteceu quando o líder sérvio-bósnio, Milorad Dodik, um dos presidentes da liderança tripartida do país (um sérvio, um muçulmano bósnio e um croata) ameaçou retirar o território sérvio das instituições nacionais, compostas pela Republika Srpska e pela Federação croato-muçulmana. A retirada do Exército, em particular, é vista como especialmente problemática.

A campanha de Dodik para a retirada começou depois de o antecessor de Schmidt, Valentin Inzko, ter usado os seus poderes especiais para impor uma lei que impede a negação de genocídio, diz o correspondente da emissora britânica BBC nos Balcãs, Guy Delauney. As autoridades da Republika Srpska disseram que não iriam aplicar a lei, aprovada em Julho. Uma comissão criada pelas autoridades sérvias da Bósnia publicou, antes, um relatório no Verão dizendo que o massacre de Srebrenica não foi um genocídio e que a maioria das vítimas não era civil, contradizendo a conclusão do Tribunal Penal para a Ex-Jugoslávia que em 2004 considerou que as forças sérvias cometeram um genocídio em Srebrenica.

A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que as frequentes ameaças de retirada da entidade sérvia da Bósnia estão a criar uma situação complicada. “Este é um caminho perigoso, tanto para a Bósnia-Herzegovina, como para a região dos Balcãs Ocidentais”, declarou. O gabinete do Alto Representante deve manter-se, defendeu, “porque serve como alicerce para a estabilidade do país”.

O conteúdo do relatório de Schmidt foi divulgado ao conselho pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, segundo a emissora alemã Deutsche Welle; o embaixador da Rússia disse ter objecções ao que considerou como palavras de “uma pessoa privada” serem divulgadas.

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