Ataque com drone que matou família e seis crianças no Afeganistão foi “erro não intencional”

Investigação do Pentágono identifica “erros de execução, combinados com viés de confirmação e falhas de comunicação”, e nega que tenha sido violada qualquer lei internacional.

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O ataque aconteceu durante as operações de evacuação no aeroporto de Cabul Reuters/US MARINES

O ataque com um drone que matou sete crianças e três civis afegãos em finais de Agosto, em Cabul, foi “um erro não intencional” e não violou nenhuma lei internacional, anunciou o Pentágono na quarta-feira.

“Não foi uma acção criminosa, nem resultou de negligência”, disse o tenente-coronel Sami Said, que é o inspector-geral da Força Aérea dos Estados Unidos.

O ataque foi lançado em resposta ao atentado à bomba de 26 de Agosto nas imediações do Aeroporto Internacional de Cabul, numa altura em que milhares de pessoas tentavam fugir do país após a tomada do poder pelos taliban.

A explosão fez pelo menos 170 mortos, incluindo 13 norte-americanos, e foi reivindicada pelo ramo do Daesh que está activo no Afeganistão e que é rival dos taliban.

Dias depois, os EUA lançaram um ataque com um drone contra o que julgavam ser um grupo de jihadistas do Daesh que se preparava para lançar um ataque contra forças norte-americanas no Afeganistão.

Em vez disso, o ataque matou dez civis afegãos, incluindo seis crianças com idades entre os dois e os dez anos.

O principal alvo foi Zamarai Ahmadi, de 43 anos, que trabalhava para uma organização de ajuda humanitária norte-americana com sede na Califórnia. O drone destruiu a casa onde viviam as famílias de Ahmadi e de dois dos seus irmãos.

No ataque foram mortos Ahmadi e três dos seus filhos (Zamir, 20 anos; Faisal, 16; e Farzad, 11); quatro sobrinhos (Arween, sete anos; Binyamin, seis; Malika, três; e Ayat, dois); e outros dois familiares, de 30 e de dois anos.

“Porque é que eles mataram a nossa família, as nossas crianças? Estão tão queimadas que nem conseguimos identificar os seus corpos, as suas caras”, disse um familiar, Ramin Yousufi, à BBC.

Segundo o Pentágono, os serviços secretos norte-americanos tinham a informação de que um membro do Daesh ia usar um Toyota Corolla branco para cometer um segundo atentado no aeroporto de Cabul. E o ataque norte-americano foi autorizado quando a equipa responsável pelo lançamento de drones detectou um veículo com aquelas características nas imediações de um conhecido esconderijo do Daesh.

A decisão de lançar o ataque seria tomada depois de os norte-americanos terem detectado, no veículo, uma mala de transporte de computadores – o mesmo objecto usado pelo atacante do Daesh nas imediações do aeroporto de Cabul.

“Como se viria a constatar, e podemos afirmar agora, tratava-se apenas uma mala de computador”, disse o tenente-coronel Said. “Não começámos a perseguir o Toyota Corolla, que devíamos ter perseguido.”

O inspector-geral da Força Aérea dos EUA disse também que as imagens mostram uma criança a entrar na zona de ataque dois minutos antes da ordem de lançamento do drone, algo que escapou à equipa que executou o ataque.

“Os indivíduos directamente envolvidos no ataque acreditavam, na altura, que estavam a neutralizar uma ameaça iminente”, disse o tenente-coronel norte-americano.

“Houve erros de execução, combinados com viés de confirmação e falhas de comunicação que resultaram em lamentáveis baixas civis, mas não houve nenhuma violação da lei, incluindo da lei da guerra.”

Em Outubro, o Pentágono assumiu a responsabilidade pelo “erro trágico” e prometeu compensar financeiramente os familiares do principal alvo do ataque. Era o salário de Zamarai Ahmadi – 500 dólares por mês, pagos pela organização norte-americana – que sustentava a sua família e as famílias dos irmãos.

 
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