Antiga secretária de campo de concentração nazi fugiu no dia do julgamento

Irmgard Furchner, de 96 anos, faltou à primeira sessão do seu julgamento num tribunal alemão e esteve várias horas desaparecida antes de ser detida.

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Pelo campo de concentração de Stutthof passaram cem mil presos PIOTR WITTMAN / EPA

Uma mulher de 96 anos que trabalhou como secretária de um campo de concentração nazi foi detida esta quinta-feira depois de ter passado várias horas em fuga, segundo a polícia alemã. A antiga secretária faltou à primeira sessão do seu julgamento que pretende averiguar o seu papel na política de extermínio durante a II Guerra Mundial.

Irmgard Furchner é acusada de ser uma das responsáveis pela morte de 11.412 pessoas durante o período em que trabalhou como secretária de um comandante das SS no campo de Stutthof, actualmente em território polaco e próximo da cidade de Gdansk.

O julgamento, muito aguardado por se tratar da primeira mulher acusada de crimes relacionados com a Alemanha nazi, estava marcado para esta quinta-feira, mas Furchner não compareceu. Segundo o porta-voz do tribunal, Frederike Milhoffer, a mulher saiu de manhã do seu lar de idosos e “apanhou um táxi na direcção da estação de metro”. Assim que a ausência de Furchner foi notada, foi emitido um mandado de captura e durante a tarde foi detida.

Furchner foi vista por um médico e o julgamento foi adiado para 19 de Outubro. A aparente fuga da antiga secretária foi condenada pelo Comité Internacional Auschwitz, que representa sobreviventes dos campos de concentração nazis e os seus familiares, que a considerou um “inacreditável desprezo pelo Estado de direito e pelos sobreviventes”.

Furchner tinha 18 anos quando começou a trabalhar como secretária do comandante das SS, Paul-Werner Hoppe, em Stutthof e, por isso, o seu caso é julgado por um tribunal de menores em Itzehoe, perto de Hamburgo (Norte da Alemanha). Hoppe foi condenado como cúmplice de homicídio em 1955 e cumpriu uma pena de dez anos de prisão, acabando por morrer em liberdade em 1974.

Tal como noutros casos recentes de guardas e civis que trabalharam em campos de concentração nazis, o julgamento irá girar em torno da avaliação do papel que a antiga secretária teve no processo de extermínio em massa levado a cabo nos anos em que ali trabalhou.

A acusação, citada pelo Guardian, sustenta que, entre Junho de 1943 e Abril de 1945, Furchner “ajudou os responsáveis no campo na execução sistemática de detidos judeus, rebeldes polacos e prisioneiros de guerra soviéticos, através das suas funções como estenógrafa e secretária do comandante do campo”.

A defesa de Furchner argumenta que as funções da secretária eram limitadas a questões de natureza prática e, por isso, não pode ser responsabilizada pelas execuções.

Pelo campo de Stutthof passaram cerca de cem mil presos e 65 mil morreram nas câmaras de gás, através de injecções letais, executados, mas também à fome e com doenças, diz a BBC.

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