José-Augusto França: “Uma pessoa ímpar, de uma inteligência, rigor e capacidade de análise extraordinárias”

O primeiro-ministro António Costa destacou o “notável olissipógrafo”, e a amiga e artista plástica Emília Nadal a “honestidade do pensamento.” As reacções à morte, este sábado, de José-Augusto França.

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Carlos Lopes

Publicou dezenas de obras e ensaios nas áreas da história e crítica de arte, mas também escreveu ficção e teve um papel relevante no ensino em Portugal. Intelectual multifacetado, José-Augusto França, que morreu este sábado, aos 98 anos, marcou sucessivas gerações. “Uma das maiores figuras do Portugal contemporâneo”, foi assim que o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, o classificou, numa nota de pesar publicada no site da Presidência. O seu perfil pioneiro, assim como a investigação que desenvolveu sobre a cidade de Lisboa foram destacados também pelo primeiro-ministro, António Costa. “Historiador e crítico de arte portuguesa, autor de estudos pioneiros que continuam a ser obras de referência, José-Augusto França dedicou a sua vida à cultura. Era um notável olissipógrafo, que tive o privilégio de conhecer”, sintetizou, na sua conta oficial do Twitter.

Quem também reagiu à sua morte foi a ministra da Cultura Graça Fonseca, tendo escrito que José-Augusto França fez  "da partilha do seu conhecimento enciclopédico a razão primordial da sua vida e esse é o maior testamento que nos deixa: a forma como iluminou e inspirou sucessivas gerações de alunos, leitores e discípulos”. Por sua vez o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, numa mensagem enviada à imprensa, expressou “sentido pensar” por aquele que classificou como “uma referência da cultura portuguesa”. Destacando, de entre as suas obras mais influentes, A Arte em Portugal no Século XIX, A Arte em Portugal no Século XX, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura e Lisboa: História Física e Moral, sublinhou igualmente que José-Augusto França “foi, ao longo da vida, objecto de múltiplas distinções.”

A amiga, artista plástica e antiga presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes, Emília Nadal, em declarações ao PÚBLICO, disse que “era uma pessoa ímpar, de uma inteligência, argúcia, rigor e capacidade de análise verdadeiramente extraordinárias. Tenho por ele uma enorme estima e sobretudo uma gratidão imensa.” Os dois conheceram-se quando José-Augusto França “escreveu sobre o meu trabalho pela primeira vez, em 1976, num folhetim artístico do Diário de Lisboa. A última vez, foi em 2015”, diz. “Devo-lhe imenso por tudo aquilo que aprendi com ele, ao nível do ver, do conhecer, da necessidade do rigor e da honestidade do pensamento. Tinha uma forma de ver a arte, e de apreciar os artistas, muito independente. Tinha certamente os seus gostos, mas era de uma apreciação livre e muito profunda das coisas.”

Nos seus últimos anos em Lisboa, “quando estava ainda muito válido”, conviveram assiduamente. O local de encontro era o Jardim da Estrela. “Para mim, aquele jardim, que atravesso muitas vezes, porque vivo perto, haverá de ficar sempre ligado à sua presença”, reflecte. “Vejo a mesa onde normalmente se sentava e onde recebia os discípulos, os amigos e as pessoas que queriam conversar ou trabalhar com ele ou só pedir-lhe opiniões. Era uma convivência extraordinária. Era de uma simplicidade enorme e de um profundíssimo e marcante humor.”

Na história da arte, segundo Emília Nadal, “deixa marcas profundas, duradouras, de grande saber e cultura, com uma visão lata das coisas e obra vasta. Recordo-me de uma exposição na Biblioteca Nacional onde estava a sua obra enquanto historiador de arte, de crítico e também como romancista e era impressionante o número de obras publicadas. Eu seria certamente uma pessoa diferente se não o tivesse conhecido.”

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