João Ferreira diz que mobilidade pedonal “não foi prioridade” para Medina

Candidato comunista está apostado em afirmar-se como “força alternativa” e “capaz de assumir o governo da cidade” para contrariar a bipolarização entre Medina e Moedas. Sobre a reabertura da estação de Arroios, ironia: “Foi pura coincidência.”

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João Ferreira, candidato da CDU à câmara de Lisboa LUSA/ANTÓNIO COTRIM

A chuva começou intensa em Lisboa ao princípio da tarde e quase ia estragando os planos de João Ferreira, o candidato da CDU à câmara que planeava caminhar pela Ribeira das Naus para mostrar o que sofrem diariamente as pessoas com deficiência na cidade. Mas como depois da tempestade vem a bonança, o curto passeio entre a estação de comboios e uma paragem de autocarros no Cais do Sodré até serviu de pretexto para acentuar as críticas a Fernando Medina, acusado de ter posto na gaveta o Plano Municipal de Acessibilidade Pedonal.

Abrigada da borrasca junto à renovada praça do Cais do Sodré – obra que marcou o primeiro mandato do autarca socialista –, a caravana da CDU ouviu César, um cidadão que se desloca em cadeira de rodas, apontar erros à empreitada. “Não sei quem é que faz essas passadeiras com pedrinhas, eu já caí aí”, assegurou.

César já antes relatara a sua “guerra diária”. Mora em Carcavelos e todos os dias vai para Sacavém. Apanha o comboio, mas está dependente de ajuda para vencer a distância entre a porta e a plataforma. Quando chega a Lisboa é frequente dar de caras com os elevadores do metro avariados. Em vez de seguir pelas linhas Verde e Vermelha até Moscavide, o que levaria talvez uma meia hora, vê-se obrigado a apanhar o autocarro 728, muito mais demorado. “Nesse percurso gasto duas horas. De Moscavide pego um autocarro até aos bombeiros de Sacavém”, relatou.

Também por causa dos problemas que enfrenta nos transportes públicos é que Paulo Conceição, que se desloca igualmente em cadeira de rodas, desistiu de os apanhar e comprou um carro. “É muito complicada a vida de uma pessoa em cadeira de rodas”, lamentou.

Mas se os transportes são via sacra, os passeios podem ser calvário. “Sou obrigado a andar na estrada porque as calçadas não tem como a pessoa andar. Já dei várias quedas”, relatou César. “O centro é o pior. Essa área aqui, até ao Bairro Alto, para uma pessoa que anda sozinha de cadeira de rodas e não tem ninguém é terrível. Sofro constantemente com isso.”

Já para Isaurindo Fernandes, tesoureiro da ACAPO, são “os passeios obstruídos com esplanadas, carros, motas e trotinetas abandonadas em tudo o que é sítio” a maior dor de cabeça para a mobilidade das pessoas cegas.

Para João Ferreira, estes são exemplos de como “esta ainda não é uma cidade para todos e entre as suas múltiplas exclusões está a das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida”. O candidato comunista diz que “esta foi uma área que não constituiu prioridade para a actual maioria”, que acusa de ter deitado ao lixo “um trabalho notável dos serviços municipais”.

Isto porque Lisboa tem um Plano Municipal de Acessibilidade Pedonal que ficou em banho-maria quando o seu coordenador saiu da autarquia e que, desde então, saltou entre vários pelouros. “No direito à mobilidade tem de caber a mobilidade pedonal e nesta tem de caber a mobilidade das pessoas com mobilidade reduzida”, defendeu João Ferreira.

Não lhe passou despercebida a avaria do elevador do metro na estação de Arroios logo no dia da reabertura e foi com ironia que se referiu à inauguração no primeiro dia de campanha autárquica. “Uma estação de metro que esteve encerrada durante tantos anos abre neste período por pura coincidência”, comentou.

Com a campanha dedicada nos primeiros dois dias à mobilidade, “a CDU está a intervir em todas as áreas relevantes para a cidade” para “de forma serena e determinada” mostrar que é “uma força alternativa”, disse João Ferreira. Ou seja: que há mais vida para lá da dupla Medina e Moedas. “A CDU é uma força capaz de assumir o governo da cidade respondendo às diversas áreas em que a cidade apresenta problemas”, rematou.

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