Taliban anunciam controlo do Vale de Panshir

Oposição diz que ainda está presente no local, o último lugar no Afeganistão que resistia aos “estudantes de teologia”.

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Antony Blinken chegou a Doha para "conversações de crise" Reuters/POOL

Os taliban voltaram a anunciar, esta segunda-feira, o controlo do Vale de Panshir, o único bastião da oposição. Os combatentes de Panshir dizem que se mantêm em posições estratégicas no local. Enquanto isso o governo, prometido já para quinta-feira, tarda em ser apresentado pelos “estudantes de teologia”.

A mais recente afirmação dos taliban em relação ao Vale de Panshir está a ser levada com mais seriedade do que as anteriores. O porta-voz que fez o anúncio é o porta-voz principal, Zabihullah Mujahid. A alegação foi feita depois de na véspera, o líder militar da oposição, Ahmad Massoud, se ter dito disposto a negociar, e dias depois de o ex-vice-Presidente ter acusado os taliban de fazerem um cerco ao local e cortarem até a electricidade.

Finalmente, os taliban difundiram nas redes sociais imagens dos seus combatentes em frente ao complexo do governador de Panshir. A oposição, pelo seu lado, garantia estar ainda “em posições estratégicas” e que vai “continuar a lutar”.

Massoud, filho do lendário comandante Ahmad Shah Massoud, o “leão de Panshir”, também declarou no Twitter que se mantém no vale e que “a resistência continua”. A força é composta por soldados afegãos que, ao contrário da maioria, não desistiram de lutar nem fugiram do país, e por membros de milícias locais. Numa mensagem áudio enviada a meios de comunicação social como a Al-Jazeera, Massoud dirigiu-se aos afegãos: “Onde quer que estejam, dentro ou fora, apelo a que comecem uma revolta pela dignidade, liberdade e prosperidade do nosso país.”

Na conferência de imprensa, o porta-voz dos taliban disse que Massoud e Saleh teriam fugido para o Tajiquistão.

O Vale de Panshir é a região que resistiu tanto à invasão soviética em 1979 como ao regime dos taliban (1996 e 2001). Mas há agora uma grande diferença: antes, os taliban não controlavam as rotas a Norte do local, como acontece hoje, tornando a situação actual muito diferente para os resistentes, deixando-os sujeitos a serem cercados.

Enquanto isso, os taliban falaram ao segundo tablóide europeu de língua alemã: depois de na semana o porta-voz oficial dar uma entrevista ao austríaco Kronen Zeitung, esta segunda-feira foi publicada uma entrevista no alemão Bild, o diário de maior circulação da Europa.

Se o Kroner Zeitung sublinhava a disposição dos taliban em “aceitarem de volta” requerentes de asilo cujos pedidos tenham sido rejeitados (dizendo que os julgariam a seguir), no Bild os taliban pediam investimento à Alemanha, prometendo segurança às empresas.

A Alemanha continua a negociar com os taliban, em Doha, a retirada de milhares de pessoas que trabalharam com as suas forças nos últimos 20 anos.

A operação de evacuação dos países que fizeram parte da coligação que invadiu o Afeganistão após os ataques terroristas de 11 de Setembro nos EUA retirou a maioria dos seus nacionais mas deixou muitos antigos funcionários, de cozinheiros a intérpretes. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, aterrou esta segunda-feira em Doha para “conversações de crise”.

No Parlamento em Londres, Boris Johnson disse que ficaram no Afeganistão 311 pessoas que o seu Governo continua a tentar retirar do país.

Já os Estados Unidos, que têm um número muito maior de afegãos para retirar, e ainda uma centena de cidadãos americanos, anunciaram que levaram a cabo “a primeira retirada de pessoas por terra”. Um responsável do Departamento de Estado disse ainda que os taliban sabiam da operação de retirada de quatro pessoas e não impediram a sua passagem. Não foi dada, no entanto, indicação do ponto da fronteira por onde passaram os americanos.

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