Covid-19 — prevenir a 5.ª vaga

É preciso que, nesta retoma de actividade, em nome da defesa da saúde pública, se assuma um papel pedagógico, ajudando organizações e pessoas a compreender os riscos para a saúde das pessoas

No quadro da situação epidemiológica provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, e no âmbito da pandemia covid-19, um pouco por toda a Europa, pressionados pela urgência em minimizar os impactos socioeconómicos, alguns países preparam medidas de “regresso à normalidade”. 

Não obstante, são diversos os motivos que levam a recomendar prudência nesta matéria, no sentido de evitar nova vaga de contágios. Por, exemplo, a OMS tem alertado para o facto de a pandemia não ter acabado em nenhum país, o que vem exigindo uma luta conjunta particularmente considerando o ritmo arrasador da variante Delta da covid-19, que deverá ser em breve a estirpe dominante no mundo.

Na Primavera, Israel foi o primeiro país do mundo perto de alcançar a denominada “imunidade de grupo” e até Junho foi retirando as restrições. Entretanto, já com a variante Delta e depois de um Verão sem restrições, o país encontra-se diante de uma 4.ª vaga da epidemia. Ante uma taxa impressionante de circulação do vírus na população, nos hospitais aumenta o número de pacientes em estado grave.

E se diversos estudos indicam que quem foi vacinado contra a covid-19 pode transportar e transmitir o vírus, sendo a carga viral de uma pessoa vacinada que tenha contraído a doença idêntica à de uma não vacinada, é preciso ponderar os riscos de um desejado “regresso à normalidade”.

Acresce que, como é sabido, nem todas as vacinas facultam idêntica protecção contra a doença – uma vez que há vacinas menos eficazes do que outras contra a doença ­– e a eficácia da generalidade das vacinas reduz face às variantes Delta e Lambda.

Ora, em Portugal – quando, já morreram mais de 17 mil e setecentas pessoas por covid-19 – o receio sobre o “regresso à normalidade” aumenta. Desde logo, porque se estima que as faixas etárias até aos 40 anos, as que têm menor cobertura vacinal, são responsáveis pela grande maioria dos novos casos. Depois, porque sabendo-se que a carga viral de um vacinado é mais reduzida mas permite a transmissão, as medidas de protecção individuais, como o uso de máscara, o distanciamento físico e a higienização das mãos, devem continuar a ser cumpridas, mesmo pelas pessoas vacinadas.

É preciso que, nesta retoma de actividade, em nome da defesa da saúde pública, se assuma um papel pedagógico, ajudando organizações e pessoas a compreender os riscos para a saúde das pessoas. Em especial nas escolas e nos locais de trabalho, alertando para o respeito escrupuloso das regras de higiene, segurança e saúde no trabalho em locais fechados, onde o risco de contágio é muito superior. Como é sabido as pessoas tendem a fugir das evidências que lhes desagradam mas é preciso que as autoridades públicas saibam refrear estas ilusões, assim prevenindo uma 5.ª vaga de covid-19 em Portugal. 

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