Conservadores culpam Boris Johnson por “catástrofe” no Afeganistão

Theresa May acusa o Governo britânico de se ter limitado a seguir os EUA e a “rezar para que tudo corresse bem”. Na oposição, os trabalhistas exigem um reforço dos planos para receber refugiados afegãos.

Foto
Theresa May foi uma das vozes mais críticas de Boris Johnson no Partido Conservador EPA/UK Parliament / Roger Harris HANDOUT

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, foi alvo de fortes críticas no Parlamento britânico, esta quarta-feira, pela forma como geriu a retirada militar do Afeganistão, e pelo falhanço na antecipação da queda do Governo do país perante o avanço dos taliban.

Num debate sobre os recentes acontecimentos no Afeganistão, Johnson começou por dizer que o Reino Unido não podia permanecer no país — e muito menos na liderança do esforço internacional — após a retirada dos EUA.

“Não acredito que o envio de dezenas de milhares de soldados britânicos para combater contra os taliban fosse uma opção aceitável para o povo britânico ou para esta câmara”, disse Johnson.

Algumas das críticas mais duras ao primeiro-ministro britânico vieram do Partido Conservador, pela voz da sua antecessora no n.º 10 de Downing Street, Theresa May.

Depois de perguntar a Johnson se não tinha conversado com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, sobre “uma possível aliança com outras forças” — e depois de ter ouvido que Johnson só falou com Stoltenberg nos últimos dias —, May insinuou que o Governo britânico se limitou a seguir os EUA de olhos fechados.

“Os nossos serviços secretos foram assim tão maus? O nosso conhecimento do Governo afegão e da situação no terreno era assim tão fraco? Ou simplesmente achámos que nos bastava seguir os EUA e rezar para que tudo corresse bem?”

A antiga primeira-ministra britânica disse também que o Afeganistão “pode voltar a ser um terreno fértil para o terrorismo”, o que por sua vez teria consequências no Reino Unido: “O objectivo do terrorismo é a destruição do nosso modo de vida”, disse May.

No mesmo sentido, o conservador Mark Harper, ex-ministro nos governos de David Cameron, salientou “o falhanço catastrófico dos serviços de informação” do Reino Unido, recordando que Johnson afirmara, a 8 de Julho, que os taliban não tinham condições para tomar o poder.

Em resposta, o primeiro-ministro britânico disse que os acontecimentos no terreno no último fim-de-semana, que levaram à queda do Governo afegão quase sem resistência, “desenvolveram-se a um ritmo que surpreendeu os próprios taliban”.

“Temos de lidar com a situação como ela se apresenta agora”, disse Johnson. “Temos de aceitar tudo aquilo que alcançámos e o que não alcançámos.”

Perante o novo cenário, o Governo britânico anunciou um aumento para o dobro no orçamento anual destinado ao Afeganistão, que será agora de 286 milhões de libras (243 milhões de euros). E Johnson disse que irá aproveitar a reunião do G7, na próxima semana, para coordenar uma resposta humanitária no seio do grupo.

“Também iremos apoiar a restante comunidade internacional a criar projectos humanitários na região através das novas verbas destinadas ao Afeganistão, que vão ficar disponíveis de imediato”, disse o primeiro-ministro britânico.

No lado do Partido Trabalhista, as principais preocupações são os refugiados afegãos, para os quais estão programadas 5000 entradas no Reino Unido este ano — e mais 15 mil ao longo dos próximos anos.

“Para quem procura ajuda de forma desesperada, não existe ‘longo prazo’, apenas luta pela sobrevivência”, disse o líder trabalhista, Keir Starmer, que criticou também a “terrível resposta do Governo britânico numa semana desastrosa e trágica”.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários