Bem-vindo, Mr Chance

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Um cineasta naif — “tem a energia de uma criança de 11 anos”, dizia, como elogio, uma actriz que trabalhou com ele — encantado com o brinquedo do cinema, mas sem mundo, ou cabeça, para lhe dar substância REUTERS/Lucas Jackson

Toda a gente conhece, pelo menos a partir de determinada faixa etária, um filme que no final dos anos 1970 foi famosíssimo. Being There, em Portugal chamado Bem-vindo, Mr Chance, realizado por Hal Ashby e protagonizado por Peter Sellers, de quem aliás foi o último filme relevante antes da morte por ataque cardíaco no Verão de 1980. Adaptado de um romance de Jerzy Kosinski, Being There conta a história de um jardineiro ingénuo, intelectualmente simplório e dotado de um ensimesmamento que o deixa totalmente impreparado para a vida mundana, mas que por razões fortuitas se torna próximo de um vulto da política americana. Os seus modos suaves e educados prestam-se à confusão com uma origem na melhor aristocracia americana, e as suas observações, vaguíssimas platitudes colhidas no único domínio que verdadeiramente conhece, a jardinagem, são tomadas como pérolas de sabedoria filosófica servidas em forma de metáfora — metáfora que, aliás, ainda hoje é válida, quando a “jardinagem” e os “jardins” continuam a servir de empratamento para muita pérola de sabedoria filosófica. Levado à televisão e citado pelo próprio Presidente dos Estados Unidos, o Sr. Chance, sem perceber o que lhe acontece e nunca abandonando as frases vagas e planas sobre o tratamento de jardins, torna-se um “influenciador” popularíssimo. No final do filme, conselheiros do Presidente entretanto falecido apontam o nome do Sr. Chance como a melhor aposta para as próximas eleições.

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