Médicos recorrem à justiça para travar despiste de covid-19 nos centros de saúde de Almada e Seixal

Com o encerramento de uma área dedicada, potenciais infectados misturam-se com outros doentes, denuncia o Sindicato, dizendo que está em causa a saúde pública e dos profissionais.

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Área dedicada que existia no Seixal foi encerrada com o abrandamento da pandemia Manuel Roberto

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) apresentou uma providência cautelar para que o despiste de covid-19 nos centros de saúde de Almada e Seixal deixe de ser feito nas condições actuais, que, segundo o sindicato, violam as normas da Direcção-Geral da Saúde (DGS) e põem em risco a saúde de profissionais e utentes.

A contestação deste sindicato dos médicos surge depois de a direcção do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Almada e Seixal ter decidido, há cerca de um mês, encerrar a Área Dedicada a Doentes (ADR) que funcionava no Seixal, em instalações cedidas pelo respectivo município. De acordo com o SMZS, o ACES decidiu encerrar esta unidade com base no argumento de que havia, então, um reduzido número de novos casos de covid-19.

A questão, nota o SMZS, é que numa altura em que o número de casos de infecção na região de Lisboa e Vale do Tejo estava a aumentar, Almada e Seixal ficaram sem qualquer área dedicada a este diagnóstico, uma vez que a ADR da Trafaria já tinha fechado, anteriormente. O sindicato diz que está em causa a saúde dos profissionais destas unidades e dos utentes, uma vez que as pessoas com sintomas agudos de covid-19 são encaminhadas para os centros de saúde, como qualquer outro doente.

Sindicato “tem provas"

João Marques Proença, da direcção do SMZS, diz que o sindicato tem provas para sustentar a queixa. “Temos denuncias fundamentadas de colegas que vamos apresentar ao tribunal para os juízes fazerem a sua própria avaliação”, disse o dirigente ao PÚBLICO. A denuncia do sindicato refere que há “inúmeras situações de permanência comum e distância reduzida de casos suspeitos ou confirmados de covid-19 com outros utentes, alguns dos quais encaminhados pela Linha SNS24 para observação em áreas que, supostamente, se destinam à avaliação clínica exclusiva dos doentes com suspeita de infecção respiratória aguda” e aponta o exemplo da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados Rainha D. Leonor, em Almada, onde os utentes com sintomas respiratórios partilham a mesma sala de espera e os mesmos elevadores que todos os outros utentes.

O dirigente sindical João Proença acrescenta, ao PÚBLICO, que os doentes suspeitos de covid, quando chegam aos centros de saúde, são “considerados azuis e verdes [pouco urgentes] e ficam no meio dos outros a aguardar o PCR”. E são depois assistidos por médicos “que não estão vestidos como nos covidários e que estão em contacto com outros doentes”. O sindicato não consegue calcular quantas pessoas suspeitas de covid passam por estes centros de saúde, mas João Proença garante que “há relatos todos os dias”.

A Comissão de Utentes de Saúde de Almada e Seixal, diz também estar preocupada com esta situação “O que nos foi referido, há um mês e pouco, foi que havia frequência diária das ADR, por concelho, de 15 suspeitos, num total de 30 pessoas no conjunto dos dois concelhos.”, diz João Lourenço. Este responsável da comissão de utentes acrescenta que, com melhor organização, as ADR poderiam funcionar nos centros de saúde. “Podia ser marcado uma hora específica, com o SNS a encaminhar as pessoas. As pessoas estão a ser enviadas a qualquer hora e a pessoa quando chega ou está à porta ou está lá dentro, junto dos outros doentes.”, refere. João Lourenço receia que “a disfuncionalidade que já se registou nas vacinas, entre os ACES e os Serviços Partilhados, possa estar a acontecer também, neste caso entre as ADR com a [Linha] Saúde 24”.

O SMZS diz que os utentes com sintomas respiratórios serem observados nos centros de saúde, é uma violação da norma n.º 004/2020 da Direcção-Geral da Saúde (DGS), que impõe a existência de circuitos exclusivos para estes utentes. O PÚBLICO tentou ouvir a direcção do ACES Almada Seixal, que remeteu explicações para a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS-LVT). A ARS não respondeu em tempo útil às perguntas colocadas pelo PÚBLICO.

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