Polícia do Canadá investiga abusos sexuais em escola residencial indígena

A investigação “de larga escala” à escola na província de Manitoba foi aberta há dez anos, mas as autoridades canadianas só agora decidiram divulgar a informação.

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Em Junho, noutro caso que chocou o Canadá, foi descoberta uma vala comum numa escola em Kamloops, na Colúmbia Britânica DENNIS OWEN/REUTERS

Uma unidade da polícia federal do Canadá revelou ter aberto uma “investigação de larga escala” há uma década sobre alegações de abusos sexuais numa antiga escola residencial para crianças indígenas na província canadiana de Manitoba. As descobertas foram encaminhadas para o Ministério Público para analisar se serão apresentadas acusações.

Num comunicado divulgado na terça-feira, a Royal Canadian Mounted Police de Manitoba afirmou que uma das suas unidades começou a investigar denúncias de abusos sexuais na antiga escola residencial Fort Alexander em Fevereiro de 2010, tendo depois aberto uma investigação criminal em 2011.

Numa revelação pouco comum e após uma década de investigação, a polícia encaminhou as suas descobertas ao Ministério Público para analisar se serão apresentadas acusações. As provas ainda estão a ser revistas. 

“Como são muitas as pessoas afectadas pela investigação, e tendo em conta as implicações sociais, determinou-se que seria de interesse público revelar tanta informação quanto possível sobre a investigação em curso”, afirmou a polícia, justificando o motivo que levou à revelação do processo.

A investigação sobre a residência, que afectou maioritariamente a Primeira Nação de Sagkeeng, envolveu 75 declarações de testemunhos e vítimas dos alegados abusos e os agentes policiais falaram com mais de 700 pessoas durante a pesquisa. Durante o processo, em que participaram mais de 80 agentes policiais, foram também analisados arquivos em Manitoba e Otava, assim como documento de funcionários e residentes da escola.

Ainda, a polícia referiu que o respeito pela privacidade das vítimas, testemunhas e suspeitos é “imperativo”. O chefe da Primeira Nação de SagkeengDerrick Henderson, reforçou que se a privacidade dos envolvidos for violada “não só resultará num maior trauma para todos os envolvidos, como pode potencialmente comprometer a investigação”.

A escola residencial de Fort Alexander, a 125 quilómetros de Winnipeg, abriu em 1905 até ter sido encerrada pelo Governo federal em 1970. Segundo o Indian Residential School History and Dialogue Centre da Universidade da Columbia Britânica, era comum as crianças tentarem fugir da instituição. Em 1928, dois rapazes afogaram-se enquanto tentavam escapar de barco.

Outras investigações semelhantes foram abertas no Canadá, nomeadamente sobre uma escola residencial da província de Saskatchewan, segundo a emissora canadiana CBC. Pelo menos 150 mil crianças indígenas foram forçadas a frequentar escolas residenciais pelo país para assimilar a cultura europeia, separadas das famílias e sujeitadas a vários abusos. Uma investigação de 2015 revelou que mais de 4100 crianças morreram enquanto frequentavam as escolas.

Até à data, mais de 1300 corpos enterrados não identificados foram descobertos nas imediações de antigas escolas, motivando a revolta popular, que exige o apuramento de responsabilidades sobre o passado colonial do Canadá.

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