Autoridades marroquinas detêm activista uigur a pedido da China

A detenção aconteceu devido a um aviso vermelho emitido pela Interpol. Grupos de activistas receiam que Yidiresi Aishan seja extraditado para a China e consideram que a detenção tem motivações políticas.

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Centro de educação em Huocheng, na província de Xinjiang Thomas Peter/Reuters

As autoridades de Marrocos detiveram um activista uigur em resposta a um mandato de detenção, por acusações de terrorismo, emitido pela Interpol a pedido da China, segundo avançou a polícia marroquina e um grupo de direitos humanos que trabalha com casos de pessoas detidas pelas autoridades chinesas.

Grupos de activistas receiam que Yidiresi Aishan seja extraditado para a China e consideram que a detenção tem motivações políticas, inserida numa campanha chinesa mais ampla para perseguir dissidentes fora do país.

A direcção de segurança nacional de Marrocos avançou na terça-feira que um cidadão chinês foi detido após aterrar a 20 de Julho no aeroporto de Mohammed V, em Casablanca, depois de um voo vindo de Istambul. “[Ele] era o sujeito de um aviso vermelho emitido pela Interpol por ser suspeito de pertencer a uma organização que consta na lista de organizações terroristas”.

O aviso vermelho – equivalente à lista dos mais procurados pela Interpol – foi emitido após uma solicitação da China, que procurava a extradição do activista, disseram as autoridades marroquinas, acrescentando que a Interpol e as autoridades chinesas foram notificadas da detenção. O cidadão chinês foi encaminhado para o Ministério Público enquanto aguarda o processo de extradição.

As acusações contra Aishan não são claras. Tanto a Interpol como a embaixada chinesa em Marrocos não responderam imediatamente ao pedido de comentários sobre a detenção. 

Segundo Peter Dahlin, director da Safeguard Defenders, a organização não-governamental especializada em detenções feitas pela China que identificou o activista, “não é invulgar” que as autoridades chinesas obtenham avisos vermelhos da Interpol para procurar uigures ou dissidentes que estejam no estrangeiro, escreve a Associated Press.

Aishan, de 33 anos, é engenheiro informático e residia na Turquia desde 2012, onde tem trabalhado como web designer e activista, segundo Abduweli Ayup, amigo e colega do activista, refere a agência. Aishan trabalhou num jornal digital da diáspora uigur e ajudou outros activistas através do seu alcance digital e da recolha de testemunhos de abusos na província chinesa de Xinjiang.

Após ter sido detido várias vezes na Turquia, Aishan trocou Istambul por Casablanca a 19 de Julho. E no sábado terá ligado à mulher dizendo que ia ser deportado, refere o colega, que tem mantido o contacto com a família do activista.

Se Aishan voltar à China, não será o primeiro. Segundo o New York Times, desde 2010 alguns países forçaram mais de 30 uigures a voltar à China depois de solicitações de Pequim, de acordo com um estudo da Oxus Society for Central Asian Affairs e do Uyghur Human Rights Project.

A China tem descrito a detenção colectiva de um milhão ou mais de uigures e de outras minorias muçulmanas como uma “guerra contra o terror” após uma série de atentados terem sido perpetrados por um pequeno número de uigures extremistas em Xinjiang. Contudo, os especialistas consideram que muitas pessoas inocentes foram detidas, ao mesmo tempo que vários países ocidentais têm acusado a China de genocídio.

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