Vacinar, vacinar, vacinar… o efeito é evidente e a urgência impõe-se antes das férias

Vacinar, vacinar, vacinar? Sim, muito rapidamente, numa aposta máxima para ganharmos a guerra covid-19! Tudo está alterado na vida das pessoas e parece evidente que nada está como antes! Estamos em plena guerra contra um vírus. Não é ficção científica. A vacinação é a estratégia correta e está a resultar muito bem, mas ainda estamos longe do fim. A aproximação das férias sem completar a vacinação é um perigo!

É necessário estar atento e “não morrer na praia”! A guerra covid-19 que vivemos convoca-nos para procurar soluções. Já ninguém aguenta um novo confinamento geral. A vacinação da população, numa ação em massa e muito rápida, é a única solução conhecida e suportável. Todavia, temos que ser ainda mais rápidos neste processo de massificação da vacinação. Agora que temos vacinas disponíveis como nunca, parece evidente a necessidade de canalizar mais recursos para a vacinação em massa nas próximas quatro a seis semanas. Temos que vacinar de manhã, à tarde e à noite, todos os dias, incluindo sábados, domingos e feriados. Com mais recursos humanos e materiais. Com mais pessoas, mais espaços e mais tempo em cada dia. Menos dias e mais vacinas! Carga máxima. Guerra é guerra.

As vacinas anti SARS-CoV-2 são a solução para a pandemia covid-19. O efeito da vacinação é cada vez mais notório, tendo em conta a diminuição de pessoas infetadas com covid-19 entre os vacinados. Porém, neste início de verão de 2021 estamos a viver uma situação sanitária instável, complexa e perigosa. Mas temos vacinas que fazem o efeito esperado, isto é, diminuem a ocorrência de casos graves e assim se evitam internamentos e óbitos. Então temos que ser muito rápidos a vacinar. Será que estamos a ser suficientemente rápidos?

Em meados de maio, a população com vacinação completa era 19% no Alentejo e 18% no Centro. Esta circunstância pode ajudar a explicar o aumento lento de casos na quarta vaga nestas regiões e, simultaneamente, talvez se justifique o aumento mais rápido na região de Lisboa e Algarve, onde, nessa altura, as pessoas vacinadas eram apenas 13% e 12%, respetivamente. Estávamos no quarto mês de vacinação, mas nessa altura a receber e a inocular pouco mais de meio milhão de doses de vacina por semana. Muito pouco e muito lento tendo em conta as necessidades.

A quarta vaga (considerando o início a 19 de maio de 2021) começou com mais casos ativos que a segunda vaga (considerando o início a 26 de agosto de 2020), mas com menos doentes internados e um número sobreponível de doentes em unidades de cuidados intensivos. De facto, o aumento da taxa de incidência a 14 dias por 100 mil habitantes está a aumentar em Portugal desde meados de maio – quarta vaga. No primeiro mês desta nova vaga duplicamos este indicador e no segundo mês quase triplicámos o número de casos. Mas a variação desta taxa de incidência não é igual em todo o país: na região de Lisboa aumentou quase quatro vezes, enquanto que nas regiões Norte, Centro e Alentejo aumentou muito pouco e na Madeira até diminuiu. No Algarve, a taxa de incidência a 14 dias por 100 mil habitantes aumentou cerca de três vezes em apenas 12 dias e continua a aumentar neste ritmo, tendo já ultrapassado a região de Lisboa.

No entanto, a evolução do número de doentes internados em cuidados intensivos nesta quarta vaga é sobreponível ao ocorrido na segunda vaga, mas o número de óbitos registados diariamente é menor nesta quarta vaga em relação ao mesmo tempo de evolução da segunda vaga. Ora, tendo em conta que temos agora mais casos ativos e mesmo com igual número de doentes em cuidados intensivos, como há cada vez mais pessoas vacinadas podemos intuir que temos doentes menos graves. Mesmo com uma nova variante em circulação na comunidade e sabendo que é mais contagiosa, o efeito da vacinação é a grande diferença.

Com o aparecimento da nova variante – a variante “delta” –, o panorama epidemiológico mudou. A “delta” foi declarada “variante de preocupação” em 24 de maio e está associada a maior risco de transmissibilidade e de internamento. No início de junho já era a variante dominante no Reino Unido. Em 4 de junho, no relatório semanal de “Monitorização das Linhas Vermelhas” do INSA e da DGS, eram referidos 74 casos desta variante em Portugal, sendo 63% na região de Lisboa, cerca de 75% do sexo masculino e com mediana de 35 anos de idade. Nesta altura já havia indícios de circulação desta nova variante na comunidade. No início de julho a nova variante já é dominante no continente.

Neste contexto, teria sido dramático se não tivéssemos atingido no final de maio os 91% de população vacinada com idade acima dos 80 anos, numa operação notável de esforço e dedicação dos profissionais de saúde, das autarquias e da equipa logística liderada pelo vice-almirante Gouveia e Melo. Todavia, abaixo de 50 anos de idade estavam vacinadas nesta altura cerca de 12% de pessoas. No inicio de julho o panorama não é ainda nada tranquilizador: em 4 de julho tínhamos apenas cerca de 21% de pessoas vacinadas com menos de 50 anos de idade. Muito pouco e muito lento!

Note-se, no entanto, que desde meados de junho, em três semanas vacinamos mais de 100 mil pessoas por dia pela primeira vez. Vacinamos mais de 2,5 milhões de pessoas em três semanas e recebemos 3,1 milhões de doses de vacinas nestas três semanas de junho. Pode assim ficar a ideia que agora estamos em velocidade de cruzeiro e em bom ritmo. Mas ainda não chega! Temos que vacinar ainda mais e mais depressa! Estamos a vacinar cerca de 850 mil pessoas por semana, mas teremos que fazer um enorme esforço de mobilização de mais recursos para, garantindo a dignidade do atendimento e a segurança de todo o processo, ser possível aumentar a capacidade de vacinação nas próximas semanas. A grande novidade deste inicio de verão, e que faz toda diferença, é a massificação de utilização de vacinas para esta infeção preocupante, com um vírus agressivo e cruel em circulação na comunidade.

O conhecimento tem uma evolução rapidíssima nestes tempos e obriga-nos a acompanhar dia a dia o que se sabe com celeridade e a seguir com perspicácia as orientações técnicas com base no desenvolvimento científico. Mesmo que seja difícil aceitar o modo de vida antissocial e tantas vezes desumano e mesmo que seja complicado, incompreensível e desastroso do ponto de vista económico e apesar do cansaço evidente e manifestado pela comunidade, ainda assim, quem não tem vacinação completa deve continuar a evitar agrupamentos de pessoas, festas de amigos ou de família. O certificado digital de vacinação é um excelente contributo que tem que fazer a diferença e ajudar as pessoas a acreditar ainda mais na vacinação covid-19.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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