Incêndios: fim-de-semana de teste

Este fim-de-semana há condições para tudo correr mal de novo. Podemos ter sorte desta vez, mas um Verão quente – que é o nosso futuro – colocará a nu, para toda a sociedade ver, que nada melhorou em relação em 2017.

Este fim-de-semana as temperaturas chegarão aos 40ºC em vários locais do país, havendo até previsões internacionais de serem atingidos os 45ºC em alguns lugares. No Sul de Espanha, as temperaturas podem aproximar-se perigosamente dos 50ºC. Desde 2017, apesar dos recordes globais de temperatura, Portugal tem beneficiado de verões relativamente amenos. Não será assim no futuro e o teste sobre o nível de despreparo do território e meios começará agora. Se em 2017 podíamos falar de condições adversas e relativamente alheias ao governo, hoje não é assim: António Costa é actualmente o responsável máximo pelo estado de degradação florestal em Portugal.

O risco de incêndio será máximo em vários locais do país este fim-de-semana, fruto das elevadas temperaturas. Para salvar o capitalismo, governos e empresas provocam deliberadamente a continuação e até o aumento de emissões de gases com efeito de estufa em vez de cortar as emissões a meio até 2030 – a consequência disto são elevadas temperaturas, cada vez mais vezes, cada vez mais altas, cada vez durando mais tempo e transformando-se em ondas de calor. Esta temperatura elevada articular-se-á com o estado cada vez mais deplorável do território nacional em termos de ordenamento e, claro, da disseminação massiva de árvores altamente combustíveis.

Poderia dizer-se que é um fenómeno natural, este novo regime de incêndios, mas é uma construção deliberada. Tanto as empresas fósseis sabiam há décadas que os gases produzidos modificariam o clima como as empresas de celulose sabem perfeitamente como a sua expansão e o seu modelo extractivista de matéria-prima florestal contribuem activamente para aumentar o risco de incêndios e desertificação em Portugal. Os governos que apoiam e sustentam estas empresas são tão ou mais responsáveis do que elas.

Este governo e o que o precedeu são responsáveis por, após o desastre de 2017, terem feito aproximadamente nada. Não há nenhuma reforma florestal, não há nenhuma melhoria na preparação dos territórios para estas temperaturas elevadas, o território continua maioritariamente abandonado, desordenado e carregado de árvores altamente combustíveis que tornam o nosso território um risco permanente para a sua população. Mais grave: as zonas que arderam em 2017 têm hoje uma carga combustível ainda maior, com o eucaliptal a rebentar em força nas áreas em que ardeu, ocupando as áreas antes ocupadas por outras espécies.

As acções tomadas por António Costa para evitar incêndios catastróficos foram estritamente simbólicas: construir uma estátua para homenagear os mortos em Pedrógão Grande e construir uma estátua para homenagear as celuloses, que foi nomear um homem das celuloses para liderar a Estrutura de Missão que iria combater os futuros incêndios. Ambas produziram efeitos semelhantes.

Este fim-de-semana há condições para tudo correr mal de novo. Podemos ter sorte desta vez, mas um Verão quente – que é o nosso futuro – colocará a nu, para toda a sociedade ver, que nada melhorou em relação em 2017, e desta vez António Costa não poderá dizer que é só uma questão de alterações climáticas. A aliança celuloses-Governo já decidiu que Portugal pode arder.

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