Que comunicação esta!

A Direcção Geral de Saúde e o Ministério da Saúde fazem mais do mesmo: confundem assessoria de imprensa com comunicação em saúde. Assim, não saímos da pandemia torta.

Não posso deixar de enaltecer a tese de mestrado de uma aluna, que recorreu à avaliação qualitativa do seu trabalho, a Carolina Marreiros. O trabalho de investigação incide sobre as mensagens passadas em três redes, de que destaco o PÚBLICO, na sua versão online, o jornal mais visitado durante o estado de emergência. Se isto é uma verdade e a mestranda aponta um conjunto de indicadores para avaliação de especialistas, de comunicação e de saúde pública, as mensagens passadas nas outras redes (sociais), além de incredíveis, em nada se baseavam no que se refere à ciência.

A comunidade acordou para a importância da comunicação em saúde baseada em falsa evidência científica. É determinante saber o que comunicar e como as autoridades precisam de comunicar em saúde. De repentes, todos passaram a especialistas de comunicação em saúde, sem graus, experiências ou especialidade nenhumas.

Este país é enorme apesar da sua pequenez, mas muitos não dispensam os potenciais momentos de glória para, via algumas instituições e áreas que não são a chave desta pandemia, aceder aos palcos e mobilizar figuras públicas que lideram verdadeiramente. Agora todos se lembram de se apoiar no vice-almirante para falar do que eles precisam para brilhar, escudando-se na disciplina de comunicação em saúde. Afinal, que disciplina é esta? Primeiro é preciso investigar.

Segundo, de que nos servem estudos, como o recente da Escola Nacional de Saúde Pública, se depois daí não se retiram conclusões. Terceiro, mobilizar os jovens e intervir. Intervir em comunicação em saúde com mensagens-chave. Desencriptar, como me ensinou José Mariano Gago, com a scientific brotherhood do físico e cientista Freeman Dyson, mas que se apresenta, na sua idade, como um contador de histórias. E como aprendemos que para convencer e mobilizar é preciso respeitar, informar e de forma transparente e verdadeira? Fazer a verdadeira translação entre a ciência e a comunidade jovem?

Na comunidade precisamos de mediadores/embaixadores jovens e não os eternos “velhos do Restelo” da educação e comunicação em Saúde, potenciadores de um sentido diferenciado de auto-ajuda nas linhas e estratégias eficazes de Comunicação em Saúde. Isso é garantia de mudança de comportamento do público-alvo (crianças e jovens dentro e fora do meio escolar). É que inquéritos apenas em meios que nos são favoráveis não têm impacto e intervenção quase nula.

Nas instituições: bases de mobilização e ativismo social, mas tanto a Direcção Geral de Saúde como o Ministério da Saúde fazem mais do mesmo: confundem assessoria de imprensa com comunicação em saúde. Assim, não saímos da pandemia torta. E isto é científico. Às tantas vemos uns e outros cheios de vaidade e hiperegocentrimos a falar – quando nada têm a acrescentar – nos efeitos secundários da comunicação, quando na verdade pretendem apenas falar da pandemia. Ou será que pretendem discutir a sua descomunicação?

Os nossos jovens merecem o respeito e determinam o sucesso na luta da pandemia. Mas convenhamos: não podemos ouvir e ver a ministra Mariana Vieira da Silva a apresentar as medidas, corroboradas pelo chefe do Governo e, à noite, lá vem o senhor comandante da PSP, securitário, com as suas medidas de opressão e repressão, apontando um recolher obrigatório que não foi exaltado pelo conselho de ministros. Os jovens não precisam de medidas e contra-medidas. Não há “nexexidade” disto.

Comuniquem e aprendam que os jovens são um grupo chave com linguagem de código. E que eles afrontam quando são ignorados pelas cátedras que falam para se ouvirem. Ou será que todos nascemos velhos? E adultos?

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