Este ministério não sabe comunicar em saúde pública

A comunicação em saúde, através da literacia em saúde, previne doenças e alivia os acessos desiguais aos hospitais. O problema é que não temos estratégia de prevenção em saúde pública em Portugal.

A criação de projetos de comunicação em saúde pública é de uma grande importância para o empoderamento e capacitação das pessoas (nacionais e migrantes) que constituem a população em Portugal. As principais formas de representação de informação para o público, que tipo de gráficos utilizar, que produtos desenvolver para atingir as mensagens-chave pretendidas junto de determinados público-alvo é a metodologia que deve ser seguida na comunicação em saúde, envolvendo as pessoas, sempre esquecidas.

Esta área científica, desenvolvida com/e para as pessoas em programas científicos e mestrado integrado de medicina na Faculdade de Medicina de Lisboa, tem um propósito: a aquisição de conhecimentos, noções, atitudes e competências sobre a comunicação em saúde e a doença, particularmente na perspetiva da população e dos subgrupos sociais considerados públicos-alvo (minorias étnicas com especificidades de saúde dos países de origem e culturas diferentes), para a promoção da saúde, prevenção da doença e redução do risco, cada vez mais abandonado em Portugal. A comunicação para a saúde é isto, mas não só.

Para que seja eficaz, é necessário adequar a mensagem aos destinatários. Como comunicar resultados da comunidade científica às pessoas, cujas consequências têm impacto nas suas vidas? Recurso a eficazes formas de representar graficamente informação e onde apresentar resultados científicos junto da comunidade (e da científica)? A Importância do trabalho em rede, envolvendo as pessoas como determinantes sociais e verdadeiros stakeholders, sempre esquecidos. 

Não nos interessa apenas comunicar e informar, de maneira redutora. O consumo de álcool e de drogas lícitas ou de tabaco e de drogas ilícitas são sempre nocivas à saúde do ser humano e em especial de crianças e jovens. Mas informar porquê, quais as consequências e formas de reduzir os riscos? São as pessoas que decidem o que fazer.

É por isso que quanto maior for o conhecimento maior será o empoderamento. E quanto maior for o empoderamento será a capacidade de decidir positivo em saúde. Melhorar a forma de comunicar com a sociedade, através da relação com os jornalistas e os meios de comunicação social é imprescindível. No fundo, aumentar o conhecimento sobre a doença e as formas de contribuir para o aumento de literacia em saúde na Medicina Preventiva, e melhores formas de transmitir informação às pessoas, é uma medida inteligente, porque previne as doenças e alivia os acessos inequitativos aos hospitais.

Que balanço poderemos fazer da comunicação em saúde que fazemos em Portugal? Capacitar para a comunicação como ferramenta de apoio à decisão não é o que faz o Ministério da Saúde, com uma espécie de policy briefs colocados no sítio de internet da Direção-Geral de Saúde (se necessário), mas que o público-alvo não sabe ler (as minorias, que não têm acesso a informação em saúde). Não é com mais sítios de internet na direção geral ou nos serviços partilhados do ministério que se constrói e se implementa um plano de comunicação estratégica em saúde. Precisamos de ir ao encontro das pessoas. Os anónimos, verdadeiros stakeholders.

A aposta – esquecida – está na prevenção. Não na cegueira de promoção dos caminhos e políticas que este ministério faz. Por isso, pese embora existir informação em saúde (e doença) veiculada pelos diferentes meios de comunicação, entre os quais destaco o PÚBLICO, com jornalistas especializados em temas de Ciência e de Sociedade, pergunta-se: com quem, porquê e quando é que o Ministério da Saúde deste país tem comunicado em saúde pública desde 2002?

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