Victor Vescovo: Evereste não é suficientemente alto para explorador das profundezas oceânicas

Explorador norte-americano veio a Lisboa participar numa cimeira que começou na terça-feira.

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O explorador Victor Vescovo a entrar num submersível Discovery

As profundezas oceânicas e o espaço sideral são “lados opostos da mesma moeda”, segundo o explorador norte-americano Victor Vescovo, para quem a subida ao monte Evereste em 2010 ainda não foi chegar suficientemente alto.

“No espaço, está-se a ir a lugares onde nenhum ser humano foi antes. [A viagem] é muito violenta, está-se num foguetão em combustão, com ruído, vibração. Mas no oceano, é tudo muito pacífico e silencioso. Em ambos os casos, testam-se os limites da tecnologia e levam-se seres humanos onde não é suposto estarem”, afirmou Victor Vescovo em entrevista à agência Lusa. O fundo do oceano e o espaço “têm em comum o facto de levarem uma pessoa a lugares onde se pode aprender algo sobre o planeta e sobre si próprio”.

Victor Vescovo, que veio a Lisboa participar na Cimeira Global da Exploração que começou na terça-feira na capital portuguesa e termina na sexta-feira em Ponta Delgada, nasceu no Texas em 1966, já os programas espaciais norte-americano e soviético estavam em plena força, e “desde pequeno” que queria ser astronauta.

Sem o conseguir, Victor Vescovo foi o ser humano que conseguiu cobrir a maior distância vertical sem ir ao espaço: dos 8848 metros de altitude do pico do Evereste, onde subiu em 2010, aos cerca de 10.900 metros de profundidade da Fossa das Marianas, no oceano Pacífico, que atingiu em 2019 num submersível.

No entanto, nos próximos dois anos, espera conseguir ir ao espaço num dos voos de companhias comerciais que se lançaram no chamado “turismo espacial”.

Entre 2018 e 2019, Vescovo atingiu os pontos mais profundos de todos os oceanos terrestres. “Acho que não conseguirei ir mais fundo, a não ser que meta uma pá num submersível. Teria que cavar. Estivemos na Depressão Challenger [na Fossa das Marianas] e visitámos outros locais candidatos, mas nenhum é mais profundo. Mas ainda há locais muito profundos completamente desconhecidos que vamos continuar a explorar”, garante.

As profundezas oceânicas são “bastante parecidas com os desertos terrestres”, refere, uma vez que “não estão mortos, mas têm formas de vida muito especializadas que sobrevivem nas condições mais extremas do planeta e com as quais se pode aprender muito”.

“Vários cientistas me disseram que o que podemos encontrar nas fossas oceânicas mais profundas poderá ser semelhante às criaturas que poderemos encontrar noutros planetas por causa das temperaturas e pressões muito diferentes no espaço”, afirma.

“Quando se vai da Terra para o espaço, passa-se de uma atmosfera [de pressão] para zero. Quando se vai da terra para o fundo do oceano, passa-se (da pressão) de uma atmosfera para 1100 (atmosferas de pressão). Passa-se para temperaturas que gelam e águas altamente ácidas”, acrescenta.

A principal inovação tecnológica neste tipo de exploração, quer oceânica quer espacial, é “a reutilização” de veículos que antes tinham uma utilização única, mas que hoje permitem múltiplas viagens de forma igualmente segura.

Além do silêncio e da vida que encontrou a quilómetros de profundidade, Victor Vescovo não esquece o “murro no estômago” que foi encontrar, ao fim de 15 minutos no fundo da Fossa das Marianas, um bocado de plástico. “Até num dos sítios mais remotos do planeta havia um pedaço de desperdício de origem humana”, lamenta, esperando que falar das suas experiências e continuar a explorar possa “levar as pessoas a perceber que o oceano não é uma lixeira”.

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