Covid-19: casos aumentam, mas ainda longe das vagas anteriores. Internamentos e mortes sobem menos

Na última semana, foram identificados em Portugal mais de dois mil novos casos por dia. Apesar do aumento dos contágios, as curvas de internamentos e mortes não reflectem esse crescimento.

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Hospital de São João, no Porto, durante a terceira vaga de covid-19 no início de 2021 Manuel Roberto

Com o primeiro boletim epidemiológico de domingo a dar conta de mais de dois mil novos casos desde 7 de Fevereiro (3508), Portugal registava pelo quinto dia consecutivo mais de dois milhares de infecções pelo vírus SARS-CoV-2, de acordo com a Direcção-Geral da Saúde (DGS). Ainda que os casos continuem a aumentar de semana para semana, a actual vaga não rivaliza com as anteriores, e os números de internamentos e de vítimas mortais não reflectem este recrudescimento da propagação da covid-19.

Se considerarmos como começo da actual vaga o início de Junho, ao fim de 30 dias verificava-se uma média diária de 1604 casos – um valor três vezes superior ao observado a 1 de Junho, mas ainda apenas um terço da marca de 30 dias na segunda vaga, em Novembro (3547 casos diários). Já nos últimos sete dias, considerando os 2041 casos deste sábado, a média diária subiu para perto dos 2100 (2077).

O aumento do número diário de casos reflecte-se também numa subida do total de doentes hospitalizados, mas a um rácio cada vez menor. Aliás, nunca houve tão poucas entradas nos hospitais por cada infecção detectada, ainda que o número de doentes graves não acompanhe essa dinâmica. Nos últimos sete dias estiveram hospitalizadas, em média, 521 pessoas com covid-19, entre camas de enfermaria e unidades de cuidados intensivos.

Se olharmos para as mortes, o aumento é ainda menos notório: de uma média a sete dias de 0,6 mortes por dia a 1 de Junho, o país subiu para quatro óbitos diários na última semana (e no sábado não houve registo de qualquer morte).

A evolução destes indicadores pode ser explicada pela vacinação, uma variável que não existia nas vagas anteriores e que reduz a quantidade de infectados que desenvolvem formas graves da doença. De acordo com o último relatório de vacinação da DGS, mais de metade da população (52%) já teve pelo menos uma dose administrada, e entre os portugueses com mais de 80 anos mais de 90% já tem a imunização completa.

Os gráficos falam por si: a curva de novos casos denota um claro aumento do número de infecções, mas numa grandeza inferior à da segunda vaga. O país não parece encaminhar-se para uma onda maior do que essa que começou em Outubro, ao contrário do Reino Unido, por exemplo, onde o número de casos diários já excedeu os valores atingidos no Outono.

E se os valores estão abaixo dessa vaga, tampouco vale a pena olhar para a situação portuguesa em Janeiro, a fase mais negra da pandemia no país, quando se chegou a atingir uma média semanal de 12.980 casos diários, 291 mortes a cada 24 horas e perto 6670 internados – mais de seis vezes os casos diários actuais, perto de 73 vezes as mortes na última semana e 13 vezes as hospitalizações.

As curvas mostram ainda que, ao fim de 30 dias na segunda e terceira vagas, os números de internamentos e de mortes também já tinham claras tendências de aumento, algo que não se verifica actualmente. Na terceira onda, o pico de casos foi até atingido ainda antes desses 30 dias depois de um crescimento exponencial em Janeiro, com hospitalizações e óbitos a chegarem a esses máximos pouco depois de ultrapassado o mês. Isto pode, em parte, ser explicado pelo facto de a terceira vaga ter começado ainda antes de a segunda ter terminado, o que fez com que o ponto de partida para o agravamento da situação fosse já alto.

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