Engenheiro encontrou danos estruturais no edifício que desabou na Florida anos antes do acidente

Um relatório de 2018 falava de fragilidades por baixo da piscina e “deterioração do betão” no parque subterrâneo.

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Ainda há 159 pessoas desaparecidas LUSA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH
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Ainda há 159 pessoas desaparecidas LUSA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH

Um engenheiro detectou há três anos sinais de danos estruturais no edifício que desabou esta quinta-feira na Florida. Num relatório de 2018 foram identificadas fragilidades na estrutura junto à piscina e “deterioração do betão” no parque de estacionamento subterrâneo do condomínio de 12 andares.

O colapso do prédio em Surfside, uma cidade costeira perto de Miami, no estado norte-americano da Florida, fez pelo menos quatro vítimas mortais. Nos últimos três dias, as equipas de busca e salvamento têm trabalhado 24 horas por dia para encontrar as 159 pessoas que continuam desaparecidas nos escombros, embora pareça cada vez menos provável encontrar sobreviventes.

No sábado, os andares do edifício continuavam empilhados uns sobre os outros como panquecas, e no ar ainda havia fumo. Os socorristas, apoiados por cães, câmaras, sonares e máquinas de construção, procuram quaisquer espaços que se possam ter formado nos escombros com ar suficiente para os sobreviventes respirarem. 

“Temos esperança porque é isso que a nossa equipa de busca e salvamento nos diz. Que eles têm esperança”, disse a presidente da Câmara Municipal de Miami-Dade, Daniella Levine Cava, numa conferência de imprensa na sexta-feira.

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As equipas de busca e salvamento continuam nos escombros lusa/ CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH

O relatório de 2018, divulgado por trabalhadores da câmara, foi produzido para a direcção do condomínio em preparação para um grande projecto de reparação que deveria começar este ano. Não é claro se os danos descritos no relatório estão de alguma forma relacionados com o colapso do edifício.

Num e-mail enviado na manhã de sábado, a vice-presidente da câmara, Tina Paul, classificou o problema da estrutura identificado no relatório como “muito alarmante”.

“Fissuras abundantes”

No relatório, o engenheiro Frank Morabito avisava que a área em redor e por baixo da piscina não era à prova de água devido a um erro na concepção. “A falha na impermeabilização está a causar grandes danos estruturais na laje estrutural de betão por baixo destas áreas”, lê-se no documento de 2018. “Não proceder [à sua] substituição num futuro próximo provocará um aumento exponencial da extensão da deterioração do betão”.

Desabamento em Miami

Além disso, Morabito disse que colunas, vigas e paredes de betão na garagem mostravam “fissuras abundantes”, incluindo nas áreas por baixo da piscina.

A Reuters não conseguiu contactar Morabito para comentários na sexta-feira à noite.

Em Abril, a empresa de Morabito apresentou um documento de 84 páginas à câmara da cidade detalhando um plano de “reparação e restauração de edifícios” para o condomínio Champlain Towers South que foi construído em 1981. O condomínio preparava-se para passar pela recertificação este ano, um requisito de segurança para edifícios que atingem os 40 anos de idade na Florida.

Dados de satélite dos anos 90 mostraram que o edifício estava a afundar-se entre um e três milímetros por ano, enquanto os edifícios circundantes permaneciam estáveis. Shimon Wdowinski, professor da Universidade Internacional da Florida, diz que os dados sugerem falhas estruturais dentro do edifício, ou sinais de que o edifício se está a afundar no solo. 

“É preciso ter esperança”

Enquanto autoridades locais fornecem ajuda e conforto às famílias, como quartos de hotel e comida, os especialistas de busca e salvamento continuam no local da catástrofe. O trabalho é feito por turnos, com um número limitado de especialistas nos escombros de cada vez, para evitar mais colapsos.

Equipas do México e de Israel chegaram para ajudar a aliviar o trabalho dos especialistas locais, muitos das quais já viajaram para locais de desastre em todo o mundo.

Por cima dos escombros, alguns empunham martelos e picaretas à procura de sinais de vida. Máquinas de construção, como retroescavadoras, arrancam a camada superior dos escombros. Abaixo do solo, os socorristas que entram pela garagem do parque de estacionamento arriscam a própria vida à procura de sobreviventes. As autoridades dizem que são ocasionalmente atingidos pela queda de destroços.

“É preciso ter esperança. Estamos a fazer tudo o que podemos para encontrar os vossos familiares vivos”, disse Andy Alvarez, chefe do corpo de Bombeiros de Miami-Dade, em declarações emocionadas aos familiares dos desaparecidos através da estação de televisão CNN. Alvarez recorda que uma vez a sua equipa retirou uma rapariga dos escombros do terramoto no Haiti oito dias após o desastre.

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