Marcelo: restrições em Lisboa são “competência do Governo”

Presidente admite que a questão é “muito sensível” e envolve a “solidariedade dos órgãos de soberania”.

Foto
Marcelo está em Nova Iorque Daniel Rocha

Não queria pronunciar-se, mas acabou por fazê-lo e até com palavras que deixam dúvidas sobre a verdadeira natureza do ambiente que se vive entre Belém e São Bento. À chegada a Nova Iorque nesta sexta-feira de manhã, para assistir à recondução de António Guterres como secretário-geral das Nações Unidas, Marcelo Rebelo de Sousa falou com os jornalistas portugueses sobre as novas medidas de restrição para a Área Metropolitana de Lisboa, empurrando responsabilidades para o Governo e voltando a vincar que no que depender de si não voltará atrás no estado de emergência.

Mas disse mais. Alegou que não queria pronunciar-se sobre o assunto porque estava no estrangeiro (em primeiro lugar) e porque o desconfinamento “é uma questão muito sensível em que se põe a questão da solidariedade dos órgãos de soberania e o Presidente da República: o poder que tem é um poder seu em relação ao estado de emergência... Em relação a estas decisões é o Governo que tem poder para decidir, não é o Presidente da República”, disse Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas.

Salientou, no entanto, que António Costa lhe comunicou os planos do Governo “antes de ser tomada a decisão” de fechar a Área Metropolitana de Lisboa entre a tarde desta sexta-feira e o início da manhã de segunda-feira. “É uma decisão nacional num contexto muito específico, tentando encontrar uma solução de equilíbrio”, afirmou o Presidente da República, nitidamente procurando escolher as palavras que usava. “Mas eu não me vou pronunciar sobre essa matéria porque estou no estrangeiro”, alegou.

Questionado sobre se sente, de alguma forma, que foi contrariado depois de ter dito que não voltaria atrás no desconfinamento, Marcelo respondeu de uma forma seca: “Eu tive ocasião de dizer que não voltaria atrás no que depende de mim, que é no estado de emergência; em relação ao resto, a competência é do Governo.”

Antes da declaração à chegada a Nova Iorque, o Expresso dera conta de mais um passo do distanciamento entre o Presidente da República e o primeiro-ministro, com Marcelo Rebelo de Sousa a dizer àquele semanário que “precisamos de uma narrativa diferente”. Ou seja, o chefe de Estado considera que, mais do acenar com a ameaça de o país voltar a fechar por causa de uma quarta vaga (pelo menos parcialmente, já que recusa voltar ao estado de emergência), é necessário mudar o discurso, acelerar a vacinação, repensar as faixas etárias prioritárias quando os infectados são cada vez mais jovens, e testar e rastrear em massa.

Sugerir correcção
Ler 7 comentários