No dia em que soube que te ias casar, chorei copiosamente, sentado na plateia do recital de piano do nosso filho. O miúdo esforçava-se para tocar as primeiras notas de Für Elise, e eu lembrava-me da música de Bach debaixo da ponte do Central Park, anos antes, quando te adiantaste na caminhada que fazíamos a dois, sem eu perceber porquê, e foste a correr até ao violoncelista debaixo da ponte, pagando-lhe para que tocasse a Suite no. 2 Sarabande à minha passagem. E quando eu me aproximei do violoncelista, um rapaz que não devia ter mais de 20 anos, com uma camisola vermelha e calções, estavas ao lado, a sorrir como se me fosses pedir em casamento, mas afinal não, foi apenas uma surpresa musical que me deixou em lágrimas dada a beleza do momento. Devia ter sido eu a pedir-te em casamento, devia ter aproveitado a deixa e ter-me ajoelhado logo ali ao som de Bach. Afinal já estavas grávida do nosso filho, podia ter tido esse gesto surpreendente. Mas não, eras sempre tu a tomar a iniciativa.
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