Greve de fome de Luís Dias chega ao fim e a Bruxelas pela mão de Ana Gomes

Há 28 dias que um agricultor estava no jardim de Belém sem comer. Antes de terminar o protesto foi parar várias vezes ao hospital e ultimamente dormia num hostel.

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Ana Gomes visitou Luís Dias, o agricultor em greve de fome Rui Gaudencio

Terminou neste domingo a greve de fome que nos últimos 28 dias catapultou a história de um agricultor de 48 anos para as páginas dos jornais. Luís Dias confirmou no Twitter que decidiu interromper o protesto para preservar a sua saúde. Fê-lo, “sensibilizado” com apoio recebido. Só hoje foi visitado por Ana Gomes, João Paulo Batalha e Marcelo Rebelo de Sousa.

A ex-eurodeputada do PS e o antigo presidente da Transparência e Integridade - Associação Cívica estiveram à conversa com Luís Dias que está há quase um mês em greve de fome no jardim Afonso de Albuquerque, em frente ao Palácio de Belém. No final, a socialista prometeu denunciar, junto da Comissão Europeia, a existência de irregularidades na atribuição de apoios à agricultura, que já contribuíram para destruir a vida de alguns agricultores, como é o caso de Luís Dias.

Ana Gomes quis ir pedir pessoalmente a Luís Dias que interrompa o seu protesto. "Aconselhei o Luís a parar. Não quero vê-lo degradar ainda mais a sua situação física. Já foi algumas vezes ao hospital e eu penso que nada justifica que ele ponha ainda mais em causa a sua saúde”, disse aos jornalistas que acompanharam a visita.

O agricultor (surdo desde os 12 anos), que entretanto optou por passar as noites num hostel da zona de Belém, começou por prometer que reflectiria sobre o assunto. “Vou ter de pensar. Falei com a Ana Gomes e ela disse que iam desenvolver acções a nível europeu. Estamos também à espera do Ministério Público. São 28 dias. Daqui para a frente, mesmo que isto se resolva, posso não vir a recuperar”, disse, citado pela agência Lusa. Mas pouco depois anunciou o fim da greve de fome.

Nos últimos dias, não foi só a candidata à Presidência da República nas eleições de 2021 que deu projecção à história de Luís Dias. O PSD emitiu na semana passada um comunicado, lembrando que tem estado atento — e feito perguntas — ao assunto da exploração de amora conhecida por Quinta da Zebreira, em Castelo Branco, propriedade do referido agricultor. “O PSD lamenta a incapacidade do Governo na resolução dos trâmites que originou a indesejável greve de fome”, escreveu o partido. 

Desde 2015 que Luís Dias tenta obter apoios financeiros da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC) à sua exploração, mas a candidatura foi recusada por supostamente não existirem garantias bancárias. O Tribunal de Contas Europeu, ao qual o agricultor se queixou, contrariou a opinião da DRAPC e confirmou não haver razão para exigir garantias bancárias. Em 2017, porém, um novo desaire viria a complicar a vida de Luís Dias: o mau tempo destruiu-lhe a exploração, o agricultor voltou a pedir ajuda para fazer face aos prejuízos pela intempérie, mas a resposta voltou a ser negativa. Só em 2019, e após uma reclamação para a Provedoria de Justiça, o Ministério da Agricultura considerou que a Quinta da Zebreira poderia ter acesso a verbas do Estado, mas nunca chegou a ser efectuado nenhum pagamento, por falta de facturas.

Ana Gomes pretende denunciar este caso em Bruxelas no sentido de alertar a Comissão Europeia para “eventuais fraudes” na atribuição de fundos comunitários e para reforçar a necessidade de ser assegurada a protecção de denunciantes. “Este é um sinal de alerta porque há evidência em relação a um fundo que já estava em vigor, houve uma situação de manifesto abuso e de esquema corrupto, que hoje continua a ser encoberto, é evidente que isto não é bom sinal para a utilização dos outros fundos que estão para vir”, assumiu.

Para a ex-eurodeputada, Luís Dias é “alguém que teve a coragem de denunciar práticas corruptas por parte de um organismo do Estado e que está hoje a sofrer a retaliação” desse mesmo organismo do Estado. “Estou triste por todos nós, pelo Governo que é do meu partido e que não teve a compaixão e se enreda em justificações burocráticas para não olhar para um caso que é de justiça”, disse ainda Ana Gomes. com Lusa

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