Governo austríaco publica “mapa do islão” com moradas de todas as mesquitas e associações

Comunidade muçulmana no país diz que a iniciativa do Governo expõe os seus membros a ataques e cataloga-os automaticamente como “extremistas”.

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Sebastian Kurz tem insistido no combate ao chamado "islão político" LEONHARD FOEGER / Reuters

A comunidade islâmica na Áustria está a criticar uma iniciativa do Governo que publicou um mapa que identifica os locais das mesquitas e associações muçulmanas no país.

A Juventude Muçulmana Austríaca, uma das principais associações comunitárias no país, afirmou que “a publicação de todos os nomes, funções e moradas das instituições muçulmanas e de instituições lidas como muçulmanas representa uma violação de fronteiras sem precedentes” e está a ponderar agir judicialmente contra o Executivo.

Na semana passada, a ministra para a Integração, Susanne Raab, lançou um site chamado “Mapa Nacional do Islão” que identifica e apresenta as moradas de mais de 620 mesquitas e associações, bem como os seus dirigentes e ligações ao estrangeiro. Raab garantiu que o objectivo da iniciativa não é “colocar os muçulmanos em geral sob suspeita” e que o mapa se propõe a “combater ideologias políticas, e não a religião”.

No entanto, a comunidade muçulmana austríaca viu a acção governamental como uma forma de estigmatização dos seus membros, que são cada vez mais vítimas de ataques racistas. Desde um ataque, descrito pela polícia como tendo “motivação islamista”, causou quatro mortes em Viena, em Novembro do ano passado, que os relatos de ameaças e agressões contra muçulmanos na Áustria têm aumentado, diz a Al-Jazeera.

A campanha governamental vem reforçar a ideia de que os muçulmanos austríacos representam “um perito potencial para a sociedade e para ordem democrática legal”, diz a Comunidade Religiosa Islâmica na Áustria (IGGOE, na sigla original). A identificação das mesquitas, associações e dirigentes muçulmanos “expõe os cidadãos muçulmanos a um risco de segurança maciço”, acrescenta a mesma entidade.

O Governo liderado pelo conservador Sebastian Kurz tem sido um forte crítico do que chama de “islão político”, que considera a raiz por trás dos atentados terroristas como o de Novembro. Porém, muitas das medidas que tem proposto para lidar com o assunto assumem um carácter racista por frequentemente confundir toda a comunidade muçulmana com os seus elementos mais extremistas. Em 2015, quando era ministro da Integração, Kurz fez aprovar uma série de leis que tratava de forma particular a religião muçulmana e foi alvo de muitas críticas.

O episódio está a dividir também o Executivo, do qual faz parte o partido Verdes, que disse não ter sido consultado a propósito do mapa. A porta-voz do partido para a Integração e Diversidade, Faika el-Nagashi, disse que o projecto “contraria o que a política de integração e diálogo deve ser”.

A iniciativa mereceu duras críticas do Governo turco, que tem visado recorrentemente as políticas de Kurz para a comunidade muçulmana. O Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmou que “as políticas xenófobas, racistas e anti-islão [da Áustria] estão a envenenar a coesão social e a participação”. “É importante que a Áustria deixe de visar imigrantes e muçulmanos catalogando-os e adopte uma política responsável”, acrescentou.

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