Retalho sustentável terá “menos vendas em loja e mais reparação de produtos”

Empresário e escritor Chris Goodall diz acreditar que o vegetarianismo ou o afastamento de produtos como carne de vaca ou derivados do leite vai continuar a acentuar-se.

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Nelson Garrido

O empresário e escritor sobre transição para uma economia neutra em carbono Chris Goodall disse esta quarta-feira que o sector do retalho vai sofrer alterações, com menos bens vendidos em loja e mais reparação, reutilização e reciclagem de produtos.

Chris Goodall participou, via online, na Conferência de Primavera da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), que decorreu na manhã desta quarta-feira e que teve como mote a discussão sobre estratégias de sucesso para o futuro, em áreas como a sustentabilidade, transformação digital e liderança.

“Vamos voltar para um modelo do século XIX, onde as coisas eram reparadas e reutilizadas”, defendeu o empresário, autor de livros como Aviso - 10 Tecnologias Para Salvar o Planeta e Como viver uma vida baixa em carbono.

Segundo o autor britânico, o retalho vai ter menos bens vendidos em loja e a venda de produtos alimentares também vai mudar, tendo dado como exemplo o fenómeno emergente em Londres das pequenas mercearias/armazém, chamadas dark grocery, que servem os locais que estejam a uma distância de 15 minutos a pé ou de bicicleta.

O empresário lembrou ainda que a agricultura é responsável por 25% das emissões mundiais de gases com efeito de estufa, dos quais 15% são provenientes da agropecuária, sobretudo gado.

Deste modo, Chris Goodall acredita que o vegetarianismo, ou o afastamento de produtos como carne de vaca ou derivados do leite vai continuar a acentuar-se.

Adicionalmente, é também de esperar, disse, o aumento da agricultura indoor, nas periferias das cidades, que se está a tornar cada vez mais viável, devido à descida do preço da electricidade e que é uma alternativa aos grandes terrenos de monocultura, alternativa muitas vezes insustentável.

No entanto, o empresário defendeu que esta é uma mudança que tem de ser feita globalmente, e não isoladamente por cada país ou bloco de países, como a União Europeia.

“Quanto maior o envolvimento dos cidadãos, maior a probabilidade de uma mudança rápida. […].Os jovens estão muito mais envolvidos, têm muito mais compreensão destes assuntos. [No entanto], estão mais desligados da política, no geral, do que as gerações mais velhas. Temos de arranjar forma de atrair as pessoas com menos de 40 anos para a política local”, concluiu.

No encerramento da conferência, o Presidente da República admitiu que “a reconstrução do futuro após a pandemia, no sector da distribuição não está isenta de desafios”, num país que está “a dar os primeiros passos no processo de término da pandemia, com um desconfinamento sensato”. Marcelo Rebelo de Sousa aconselha os retalhistas a “unir esforços” para poderem enfrentar grandes concorrentes internacionais.

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