Covid-19: Aplicação “Mind the Mom” quer cuidar da saúde mental das grávidas

A aplicação “Mind The Mom”, criada na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra , quer ajudar a minimizar as adversidades da pandemia através de uma intervenção psicológica para promover o bem-estar das grávidas. Com ou sem pandemia, a app vai funcionar, pelo menos, até ao final de 2022.

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A aplicação quer ajudar grávidas a enfrentar as adversidades da pandemia D.R.

Alterações no acompanhamento em consultas de seguimento obstétrico e de preparação para o parto, impedimento da participação do pai nesses momentos, mais tempo de isolamento por força do confinamento e uma maior incerteza em relação ao futuro. Se a depressão perinatal era já comum numa época pré-pandémica, a covid-19 veio ajudar a agravar a saúde mental de um grupo já por si vulnerável. 

Foi numa tentativa de ajudar a minimizar “os desafios que advêm da pandemia de COVID-19 e as suas implicações para o bem-estar das grávidas” que surgiu o “Mind The Mom”, lê-se no comunicado enviado à imprensa. Trata-se de uma breve intervenção psicológica feita através de uma aplicação móvel que disponibiliza vários exercícios, estratégias e informações que podem ser uteis para grávidas – tudo adaptado especialmente ao momento pandémico que vivemos.

A app faz parte de um projecto conduzido por uma equipa do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC, em colaboração com o Serviço de Obstetrícia A do Departamento de Ginecologia, Obstetrícia, Reprodução e Neonatologia e a Unidade de Psicologia Clínica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

“Em Abril de 2020, começamos a pensar em criar algumas ferramentas que pudessem ajudar as grávidas, porque rapidamente percebemos que seria uma população que iria estar particularmente vulnerável com todas as alterações que sucederam em Março desse ano - sobretudo depois de decretado o primeiro confinamento”, começa por explicar Anabela Araújo Pedrosa, investigadora do CINEICC e coordenadora deste estudo, ao PÚBLICO. Rapidamente o grupo de investigadores começou a desenhar instrumentos que pudessem ser usados pelas grávidas “em suas casas, no seu conforto e ao seu ritmo”. Recolheram, assim, “estratégias que obviamente têm evidência científica para a promoção do bem-estar e da saúde não só para grávidas, nem só em tempos de pandemia, mas que são úteis em tempo de incerteza, de algum risco, de lidar com a adversidades” e adaptaram-nas a um formato específico para futuras mães.

Assim nasceu a “Mind The Mom” que é composta por cinco módulos, onde vão sendo exploradas formas de fazer uma melhor gestão do stress e de emoções e pensamentos negativos, melhorar a comunicação interpessoal e o autocuidado. “Cada módulo é dedicado a um determinado tema, disponibiliza alguma informação e depois apresenta exercícios” tais como trabalhos de relaxamento, de meditação guiada – onde o objectivo é que cada grávida “avance ao seu próprio ritmo”, clarifica a investigadora.

92% das utilizadoras recomendariam a app a outras grávidas

A aplicação foi desenvolvida em parceria com a Hypsoftware e o músico Miguel Falcão, que cedeu algumas das suas músicas e foi responsável tratamento de som dos outros exercícios áudio. Disponível para sistemas Android e IOS, a “Mind The Mom” já foi utilizada por 225 grávidas e começou a revelar resultados que demonstram a utilidade e eficácia da sua intervenção para a saúde mental perinatal.

O comunicado enviado à imprensa dá conta que, entre as utilizadoras da app, “cerca de 81% consideram-se muito satisfeitas ou extremamente satisfeitas, 74% classificam-na como muito útil ou extremamente útil, 87% tencionam aplicar as informações e exercícios sugeridos na sua rotina, 88% pretendem voltar a utilizar a app e 92% recomendariam a app a outras grávidas”.

Inicialmente, as grávidas interessadas em utilizar a aplicação terão que preencher um questionário online que aborda temas sociodemográficos e de saúde com vários indicadores de adaptação e escalas validadas para a população portuguesa. No final é-lhes perguntado se consentem em participar num segundo momento de avaliação “para verificarmos até que ponto é que houve alterações [no seu estado de saúde mental] ou não”, afirma Anabela. O objectivo é, mais tarde, através de mecanismos estatísticos de controlo “tentarmos ver se algumas dessas mudanças podem, ou não, ser atribuídas à utilização da app durante a gravidez”, esclarece.

Está previsto que os dados deixem de ser recolhidos no final deste Verão – data em que os investigadores esperam ver a situação pandémica controlada, devido aos avanços do processo de vacinação. Ainda assim, a app continuará disponível, pelo menos, até ao final de 2022, “para não interromper quem entretanto a começou a utilizar”. Apesar de direccionada para um contexto de maior isolamento, se a app vier a revelar-se eficaz, a investigadora não esconde que esta poderá, mais tarde, continuar a ser disponibilizada a grávidas - “esperemos que aí já não tão especificamente para situações de pandemia”, remata.

O “Mind The Mom” é um projecto de investigação parceiro da iniciativa World Maternal Mental Health Day, que se dedica à investigação e intervenção na saúde mental materna.

Notícia editada por Andrea Cunha Freitas

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