Portugal vai “chegar ao grau de imunização dos ingleses mais ou menos ao mesmo tempo”, tal como disse Costa?

Primeiro-ministro traçou meta ambiciosa para Portugal: chegar ao grau de imunização dos ingleses mais ou menos ao mesmo tempo. O PÚBLICO ouviu um especialista para a Prova dos Factos.

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RODRIGO ANTUNES/LUSA

A frase

“Nós vamos chegar ao grau de imunização dos ingleses mais ou menos ao mesmo tempo do que eles"
António Costa em entrevista ao Jornal de Notícias, Diário de Notícias e TSF

O contexto

Em entrevista aos três meios da Global Media, o primeiro-ministro, António Costa, disse que, apesar do atraso face a países como os EUA, Israel e o Reino Unido, Portugal chegará ao nível de imunização dos ingleses “mais ou menos ao mesmo tempo do que eles”. “Os ingleses não exportaram, ao contrário do que a Europa tem feito; em segundo lugar, espaçaram muito o tempo entre a primeira e a segunda toma”, disse o responsável pelo Governo português. Ainda assim, Costa admite que “vamos chegar ao grau de imunização dos ingleses mais ou menos ao mesmo tempo do que eles eles talvez com umas semanas de vantagem, mas pouco mais”.

Já na semana passada, o secretário de Estado da Saúde, Diogo Serra Lopes, admitira a possibilidade de Portugal atingir a imunidade de grupo mais no “início do Verão”, antecipando as previsões iniciais, que apontavam para que apenas fosse atingida no final da estação quente.

Os factos

De acordo com dados recolhidos pelo PÚBLICO até este domingo, dia 3 de Maio, 50,22% da população no Reino Unido já recebeu pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19, sendo que 20,69% já recebeu as duas doses e tem, assim, a imunização completa.

Por seu lado, em Portugal 23,91% da população recebeu já uma dose da vacina e apenas 8,72% as duas. Em Inglaterra, as pessoas com mais de 40 anos vão receber a vacina contra a covid-19 nas próximas semanas enquanto em Portugal só no final de Maio é que a população com mais de 60 terá recebido pelo menos uma dose do medicamento. As autoridades nacionais acreditam que só depois de Agosto teremos atingido mais de 70% da população adulta vacinada.

Logo no início do plano de vacinação, as autoridades de saúde em Inglaterra apostaram num maior espaçamento entre a primeira e a segunda dose, de forma a ter um número maior de pessoas vacinadas com pelo menos uma dose. Em Portugal, essa decisão foi tomada mais tarde

Ao PÚBLICO, Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, admite “que é possível que o plano de vacinação português acabe por alcançar o inglês se considerarmos a meta final, de toda a população vacinada com duas doses de vacina (ou um dose no caso do fármaco da Janssen)”. 

O especialista explica que, ao contrário do plano português, em Inglaterra “há uma dependência grande da vacina da Universidade de Oxford-AstraZeneca e pode entrar nalguma desaceleração entre a primeira e segunda dose”, ao contrário de Portugal, que não está tão dependente desta vacina. As vacinas da Pfizer e Moderna têm intervalos de 2-3 semanas entre 1.ª e 2.ª dose; a vacina Janssen-Johnson&Johnson é de dose única. Desta última vacina, “Portugal contratou 4,5 milhões de doses, praticamente o suficiente para metade da população”.

Desta forma, assume Miguel Castanho, “é possível que o plano de vacinação português acabe por alcançar o inglês se considerarmos a meta final, de toda a população vacinada com duas doses de vacina (ou 1 dose no caso da Janssen)”.  Ainda assim, o especialista alerta para o risco da variável relacionada com a disponibilidade das vacinas, em que o Reino Unido tem vantagem. “É um factor que ‘joga’ a favor do Reino Unido, já que tem grande proximidade à produção da vacina de Oxford-AstraZeneca e Portugal não tem igual influência sobre o fornecimento de qualquer vacina”, sublinha.

Em resumo

Apesar do actual atraso de Portugal face ao plano de vacinação do Reino Unido, onde se insere Inglaterra, Portugal pode aproximar-se da meta de 70% da população vacinada. Para que tal aconteça, Portugal tem o trunfo das vacinas de unidose, como a da Janssen-Johnson&Johnson. Ainda assim, os ingleses têm a vantagem da proximidade de produção da vacina de Oxford-AstraZeneca, que os protege de problemas de disponibilidade, que já afectaram os países da União Europeia desde Dezembro, quando arrancou a campanha de vacinação. 

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