Fotografia
Uma viagem ao interior abandonado dos hospitais psiquiátricos norte-americanos
Durante longas décadas, longe do olhar público, milhares de pessoas habitaram as alas dos hospitais psiquiátricos dos Estados Unidos da América. Muitas das instituições que hoje se encontram ao abandono, na sua maioria construídas em meados do século XIX, foram fotografadas, ao longo de vários anos, pelo canadiano Matt van der Velde e compilados no fotolivro Abandoned Asylums, editado pela Jonglez Publishing. Entre os muitos edifícios que o fotógrafo documentou estão "o hospital privado que tratou Marilyn Monroe, a instituição onde foi encarcerado Charles Manson e as salas que serviram de laboratório para as primeiras lobotomias", refere a editora, em comunicado dirigido ao P3.
Antes de meados do século XIX, os hospitais psiquiátricos eram inexistentes nos Estados Unidos da América. "Estes surgiram quando o Estado norte-americano assumiu responsabilidade no tratamento da doença mental", pode ler-se nas páginas do fotolivro de van der Velde. Antes disso, os doentes eram colocados em hospícios, casas-abrigo, prisões – locais onde permaneciam na companhia de todos os que estavam em situação de exclusão social. Havia também famílias que optavam por manter os seus familiares com doença mental "escondidos" em casa, em divisões fechadas de onde nunca saíam. A criação de hospitais psiquiátricos representou, então, um avanço significativo na qualidade de vida destes pacientes. E na sua esperança de cura.
O fotógrafo dá um exemplo: antes de se mudar para Willard State Hospital, em 1869, Mary Rote, a primeira paciente do hospital, tinha vivido dez anos numa casa-abrigo. "Vivia despida numa cave onde havia apenas um tapete", descreve, no texto que acompanha o capítulo dedicado a Willard. "Quando chegou ao hospital, tomou banho, vestiram-na, alimentaram-na e atribuíram-lhe uma cama com cobertores. Willard oferecia a estas pessoas condições mais dignas do que outros lugares." Era, então, uma instituição "revolucionária". Com a passagem do tempo, ficou sobrelotada. Fechou em 1995.
Apesar de terem sido criadas para reabilitar doentes, devido a sobrelotação e escassez de financiamento e de recursos humanos muitas destas instituições foram-se deteriorando. "Em meados do século XX, estavam desacreditadas. Eram decrépitas, sobrelotadas, e tinham-se tornado locais de permanência e não de cura." Apesar disso, a grande maioria não foi desmantelada. "O Governo precisava destes edifícios para 'armazenar' milhares de pessoas que não podiam tomar conta de si mesmas."
O século XX viria a ser um período obscuro na história destes edifícios. E muitos indícios desse período negro são visíveis, ainda, nas fotografias que o canadiano recolheu. Hoje, estes "edifícios históricos que já foram símbolos de progresso" estão apenas vazios e esquecidos. Abandoned Asylums trá-los de volta à luz para melhor podermos compreender o passado e apreciar o presente.