Quem arbitra na Superliga? Só quem quiser abdicar da carreira

Pedro Henriques, especialista do PÚBLICO, lembra que arbitrar na Superliga Europeia seria abrir mão de um rol de regalias muito importantes para um árbitro. Tal como sublinhou a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, é pouco provável que juízes nacionais cedam aos encantos da competição elitista lançada no último domingo.

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Artur Soares Dias é o único árbitro português na elite mundial LUSA/OCTAVIO PASSOS

A criação da Superliga Europeia já motivou dúvidas sobre quem entra, como são escolhidos os clubes, qual o formato da competição e quanto dinheiro haverá envolvido. E quem apita?

Nesta terça-feira, a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) tentou responder a esta pergunta, pelo menos no prisma nacional. Os árbitros portugueses, diz a APAF, não estão disponíveis para fazerem parte da Superliga.

“Os árbitros portugueses estão disponíveis para arbitrar competições da Federação [Portuguesa de Futebol], das associações distritais, da FIFA e da UEFA e nunca de qualquer outra competição que não esteja sob a égide destas instituições”, elencou à Lusa Luciano Gonçalves, presidente da APAF.

Pelas palavras do dirigente fica claro que a Superliga, a avançar, colocaria os árbitros num plano de actuação quase “clandestina”, por estar fora da esfera de instituições para as quais os juízes trabalham actualmente.

A APAF conclui, desta forma, que os árbitros nacionais não estão disponíveis para esta nova competição, até porque, explica Luciano Gonçalves, os juízes que forem contratados pela Superliga “deixam de pertencer aos quadros da FIFA e da UEFA”.

Superliga requer árbitros top

O que significaria, para os árbitros, “sairem da asa” da UEFA e da FIFA? Pedro Henriques, ex-árbitro e especialista de arbitragem do PÚBLICO, dá algumas pistas. 

“Uma Superliga com este nível de equipas e jogadores requer árbitros de top europeu, com experiência e qualidade”, aponta. E detalha as regalias que os árbitros perderiam.

“Abdicarão os árbitros, a troco de dinheiro, de arbitrar jogos dos seus campeonatos, das competições internacionais de clubes e de selecções? Prescindirão de estarem presentes nos Europeus, Mundiais ou Jogos Olímpicos? No fundo, daquilo que é a história de vida e de carreira de um grande árbitro internacional? E estando de fora da UEFA e do International Board, como vão os árbitros fazer as acções de formação, as reciclagens, as alterações às leis de jogo, a sua avaliação e toda a evolução e actualização?”

Todas estas questões confluem numa só conclusão: dificilmente um árbitro português da primeira categoria hipotecaria a carreira em prol da Superliga. Sem o dizer claramente, foi em parte isso que argumentou a APAF.

Quem poderia lá estar?

Que árbitros portugueses poderiam estar na Superliga? Em tese, qualquer um que fosse convidado. Mas tratando-se de uma competição com equipas e jogadores de topo é pouco crível que a Superliga não tentasse seduzir juízes também eles de topo.

Nesta fase, Artur Soares Dias, da AF Porto, é o único árbitro português na categoria Elite da UEFA (primeiro escalão). É, pelo estatuto, o mais capacitado, mas também é, por extensão, o que mais perto está do topo de carreira na UEFA – e, em tese, menos susceptível aos encantos da Superliga.

A segunda categoria europeia, a que a UEFA chama First, tem o lisboeta Tiago Martins e o leiriense Fábio Veríssimo.

João Pinheiro e Luís Godinho surgem no terceiro escalão, o Second, categoria acima de outros quatro árbitros nacionais: Vítor Ferreira, António Nobre e Iancu Vasilica, todos ainda jovens, e o mais experiente Hugo Miguel.

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