Administrador judicial septuagenário tentou apropriar-se de quatro milhões

Arguido tinha como cúmplice cadastrada que se fazia passar por consultora financeira. Burla que deu origem à Operação Atlantis, da Polícia Judiciária, está relacionada com apropriação de massa insolvente do grupo açoriano WOP.

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Daniel Rocha

Um administrador judicial de 75 anos e uma mulher de 55 que se fazia passar por consultora financeira são os protagonistas de uma burla destinada a fazer desaparecer quatro milhões de euros da massa insolvente de uma sociedade sediada em Ponta Delgada, revelou nesta segunda-feira a Polícia Judiciária (PJ).

As autoridades não revelaram o nome da sociedade, mas o PÚBLICO apurou que se trata do grupo Walter Oliveira da Ponte (WOP), ligado às farmácias e aos produtos farmacêuticos e com empresas em quase todas as ilhas do arquipélago. Até 2014 fornecia as unidades de saúde de São Miguel. 

A pretexto do investimento da massa insolvente WOP em produtos financeiros de capital garantido e em imobiliário - uma prerrogativa permitida por lei - o administrador judicial encaminhou, em Novembro passado, quatro milhões de euros para a conta bancária da cúmplice, que é natural de São Miguel mas mora no continente, onde cumpriu cadeia até 2015. A mulher conta, aliás, com um longo cadastro neste tipo de crimes, pelos quais chegou de resto a estar presa várias vezes.

Uma aparente falta de cuidado dos dois suspeitos levou à descoberta do esquema antes que o dinheiro subtraído à massa insolvente se dissipasse ou fosse transferido para paragens remotas. O facto de a transferência ter sido feita de uma vez só e para uma conta com um saldo habitualmente baixo despertou a atenção da instituição bancária, que bloqueou as transferências que a mulher queria fazer deste dinheiro para outras contas e alertou também a Unidade de Informação Financeira da Polícia Judiciária. 

Os contratos apresentados para justificar esta operação, relacionados com o investimento da massa insolvente, não convenceram as autoridades. Terão sido forjados. Os quatro milhões iriam servir também para pagar dívidas da putativa consultora, que tinha conhecimentos no meio financeiro e que nalgumas situações também se fazia passar por advogada. 

Depois de ter sido detida, a meio da semana passada, a mulher foi colocada em prisão preventiva, enquanto o administrador judicial ficou em liberdade mas proibido de mexer não só neste como em todos os processos de insolvência que tinha a seu cargo. 

Em causa estão crimes de peculato, falsificação de documentos e branqueamento. Intitulada Atlantis, esta operação ficou a cargo da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Judiciária, com a colaboração do Departamento de Investigação Criminal dos Açores. Além do administrador judicial, que não tem cadastro, e da ex-reclusa foram constituídos mais quatro arguidos por alegada cumplicidade neste esquema. Estes últimos suspeitos têm ligações à WOP. 

Data de 2015 o início do processo de insolvência deste grupo, após um pedido nesse sentido por parte do Banif. Em Outubro de 2017 foram postos à venda bens pessoais do casal Walter Oliveira da Ponte e Hermínia Ponte, num valor superior a nove milhões de euros. O grupo WOP tinha também construído uma residência senior em Ponta Delgada, comprada em 2019 no âmbito da insolvência por um canadiano por 6,4 milhões. Entre 2012 e 2014 este projecto recebeu incentivos do Governo regional da ordem dos 2,47 milhões. com Rui Pedro Paiva

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